Momento mágico

Sabia que este momento chegaria. Falar do que tem representado para mim estas reflexões. Para começar, tenho de falar de mim. Sou uma pessoa que só entendo o que eu sinto depois que coloco meu pensamento no papel; em qualquer situação. Sei que assimilei um conteúdo quando o escrevo, sei que entendi o que ouvi quando escrevo, entendo o que sinto quando escrevo. E a medida que ia lendo os textos, e escrevendo minhas reflexões, voltava a eles, tentando tirar da superficialidade das palavras a essência para meu entendimento. Como sempre gostei de ler, não foi difícil fazê-lo já que o assunto é o que considero meu.

Sei que sou mais emoção do que razão, e isso, em alguns momentos, pode ter-me feito desfocar das questões da vida acadêmica e me levado às questões que de alguma forma me emocionam. Como foi quando li um texto de Maryanne Wolf, que se referia às leituras que devem ser feitas na infância. Lembrei-me que lia afoitamente sem nunca ter visto meus pais lerem; mas recordei das histórias que meus avós me contavam ao dormir. Eram sempre as mesmas histórias, e ainda assim, eu devorava cada palavra daquele momento que para mim era mágico. Via meu avô pegar o dicionário de inglês e pesquisar as palavras para enriquecimento da sua segunda língua. Bem mais tarde, quando soube que ele só teria terminado o ensino fundamental I (hoje o 5º ano) me perguntei de onde vinha tanto conhecimento e sabedoria.

Muitas reflexões me proporcionaram este momento que reflito entre a leitura e a escrita. Pensei em meus alunos, relutando para ler um livro extraclasse, mas adorando nossas leituras em sala de aula; ou aplaudindo ao término de uma declamação de poesia, quando estou introduzindo um novo estilo literário. É nesse momento que vejo que eles amam a leitura, mas ainda não sabem disso. E vejo que tenho que ajudá-los a descobrir o que eu já sei deles, e eles ainda não sabem.

Quando estão produzindo textos nas aulas de produção textual, se entregam para mim. Contam seus segredos e me pedem que eu não leia na presença deles. Ainda assim, estão se entregando, confiando em mim. E desejam um retorno. Querem saber se eu gostei, como poderiam se fazer mais claros... assim eles vão lendo e escrevendo.

O que posso dizer é que a leitura sempre me envolveu emocionalmente. Fez-me refletir sobre minha vida pessoal e profissional; fez-me rever momentos da minha vida enquanto leitora, fez-me pensar na minha prática docente, em minhas leituras e escritas, e o quanto preciso escrever para entender a mim mesma.

Barbara Bittencourt
Enviado por Barbara Bittencourt em 23/04/2012
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