A MORTE.

A morte mata e faz reviver. Estava ali um amigo, morto, com quem vivi muitas jornadas jurídicas. Não vejo a fisionomia dos que se foram deitados no leito da morte, não gosto, e não há razão justificável.

Há quem se debruce a mirar por longo tempo, acho estranho, mas respeito.

Por que esse colóquio intimista de uma vida que não conhecemos? Já não nos pertence quem foi e seu halo.

Já não há mais nada de corpo, com o qual convivemos em conversas e troca de emoções, do dia a dia, de suas e nossas histórias.

Partiu para o que não conhecemos....ainda, o desconhecido, gigantesco e mágico por ser desconhecido, e desafiar o universo.

Passou de trevas para a calma de algo que a eternidade espera e confere a quem abre essa porta, e respira na calma da eternidade, a mesma que transmite os cemitérios.

Nessas horas nada é tudo.....engraçado, paradoxal, um tudo que sentimos como nada....

Estava afastado dele faz tempo, privilegiada inteligência, mas fizeram questão de me avisar,seu filho, dizendo, ele gostava muito de você. Sei disso, com todas as dificuldades que ele demonstrava no convívio, vaidoso, sumamente inteligente, soberbo, mas me respeitava muito. Um jurista de cepa, coisa natural.

Quis homenageá-lo com minhas orações, distante do corpo sem vida, mas no local onde estava. Quis fazer minha homenagem, a ele e aos filhos,

Conversei com todos. Longamente com sua filha, moça de qualidade, que disse ter ele pedido perdão a ex-mulher e terem vivido como amigos que eram seus dias finais, embora ele tivesse uma doce companheira, como a mim pareceu a pessoa com quem já vivia e casou formalmente faz tempo.

Perdão de quê? Vida, digo sempre, é para ser vivida. Se há enfrentamentos e rupturas ,são traços que o destino arbitrou e alinhou. E ninguém se livra de seu destino, e abençoado é aquele que reconhece erros, se acha que os teve, e morre com serenidade. Perdoar perdoa o infinito.

Quem não tem erros?

A morte espera como certeza única todos que vivem. Se partimos com placidez e serenados pela jornada e seus reflexos, na lucidez do encontro com Deus, limpos, na paz da consciência, nada mais temos do que a luz de termos sido abençoados.

Que Deus te receba na calma da eternidade com a máxima luz espiritual.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 23/04/2012
Reeditado em 23/05/2012
Código do texto: T3629045
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