Tatuí
Perdeu a fé o pobre rapaz da linha 505. Sentou-se ao meu lado no Ônibus e tentou procurar um caminho debaixo da terra lamacenta; querendo desfazer-se - para não enferrujar-se - da fantasia de homem-lata que tanto vestiu.
Perdeu a fé por não poder mais digerir a sua insatisfação quanto às marionetes que decoram seu alforje. Ele não quis mais engolir a vida que lhe ensinou a ter um suspensivo medo que trava suas peculiaridades e extravagâncias. Por isso, deve ter sido sequestrada a sua fé; devido a toda preocupação de elefante que pesou na mente muitas toneladas só neste fim de mês. Ela não pede licença...mas chega depois de uma longa caminhada com alguns quilos a menos pela tarde, e ele paga a conta.
E assim, perdeu afé o pobre rapaz que percebeu não ser o único desatento da vida. Ah, teimoso crustáceo! Já querendo vazar feito areia pelos dedos das mãos, perdeu a fé mas antes assumiu sua pequenez de tatuí que se esconde na insegurança. Ficou de braços tão abertos e alma trancafiada para o que o ontem lhe trouxe, que hoje já não pensa desafiar o destino. Perdeu a fé e até aceitou a temperatura morna que a vida, por vezes, leva. Perdeu a fé e descobriu que é preciso mais de um copo d'água com açúcar para desfazer sua postura rígida de cara valente...que enverga até as vértebras de sua espontaneidade na procrastinação cotidiana e desleal.
Perdeu a fé e até pôde amedrontar-se e esconder-se em Tatuí; sem precisar desmentir os cacos de vidro impregnados na sua fragilidade. Perdeu a fé na areia movediça, mas volta agora e vê alguma esperança nesta sua pequena que lhe escreve. Nela e na sua grandeza peculiar quando abre o peito e encara a vida como ela é - e da maneira como pode -, sem deixar-se intimidar pela pequenez de seus 1 metro e 57 centímetros de altura...perante a amplitude do céu e a selva de pedra que tenta demolir tijolo por tijolo. Poque se o pobre rapaz da linha 505 perder a fé de novo, esta pequena estará a sua espera, livre de qualquer armadura ou outras ferrarias.