Aniversário

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Amanhã faço trinta e cinco anos. Mas não é só o meu RG que acusa esses trinta e cinco anos. Acusa, no bom sentido, claro. Eu me sinto, de fato, com essa idade bonita. É verdade que o corpo sente. A TPM fica terrível e os hormônios, agitadíssimos, parecem que se dão conta da responsabilidade dessas três décadas de vida. As dores de cabeça (de todos os tipos) também ficam mais freqü...entes: um solzinho mais forte, uma noite mal dormida ou umas cervejas extras. Mas toda a diferença está mesmo numa coisa muito simples: Com dez, eu era só uma garota e, aos 20, não se pode dizer que se é algo além de jovem. Mas hoje, posso dizer, sem qualquer titubeio, que eu sou uma mulher! E isso é bom demais! Aos trinta e cinco, apesar de ainda ter um mundo inteiro de descobertas pela frente e o desassossego à flor da pele, eu me sinto muito mais "capacitada” pra esse negócio de viver. Apesar de muito mais realista, muito menos otimista, mais cética do que idealista, me sinto muito mais humana, não no sentido estrito, mas no grandão. Eu não me importo mais com o sofrimento alheio do que me importava há 10 anos atrás, mas agora me sinto muito mais apta a reconhecê-lo. Não associo mais o sofrimento diretamente às grandes catástrofes, como tsunamis, o narcotráfico e as guerras pelo mundo. Reconheço o sofrimento numa voz calada, num olhar distante... sofrimento sem o motivo estampado na cara. Também me sinto muito mais livre de preconceitos, esses muitos que a gente acaba vestindo junto com as roupas que os pais nos colocam desde o berço. Entendo, muito satisfeita, que não se tem que aceitar diferenças. Porque essas diferenças que querem que a gente aceite simplesmente não existem. É verdade que a mulher de 35 tem lá suas ilusões perdidas. Tanta coisa que eu dizia que jamais faria... E é bom quebrar a cara (não no sentido literal). É bom saber que se pode chutar o orgulho pra escanteio e insistir numa paixão que você quer mais do que tudo. Que as respostas de hoje podem não satisfazer às aflições de amanhã. Que sexo é bom com e sem amor. Que diante de uma perda irreversível, a tristeza se cristaliza, a saudade reside e a vida segue. Enfim, perdem-se as ilusões e ficam as esperanças. E é esse movimento reflexivo a mola propulsora da vida.

A sensação que combina com essa idade é a de intensidade. Hoje, aceito as tristezas sem o ranço de quem se vitimiza, porque sei que elas fazem parte do processo. Em compensação, os risos são muito mais contundentes. Os sons, a música, os gostos... tudo vem magnificado. Assim como o amor.

Pois é, em meus 35 anos, posso dizer que eu sou "coisa feita", ou, numa definição ainda melhor, "a conta certa entre o doce e o sal".

Cada um tem a idade do seu coração, da sua experiência, da sua fé. (George Sand)

Cris Souza Pereira
Enviado por Cris Souza Pereira em 22/04/2012
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