AQUELE BANCO DE MADEIRA!
Era tosco, simples em tabua pregado em quatro estacas fincado no chão. Todos tinham o banco de madeira na frente de suas casas.
Quando me lembro confesso que tenho saudade. Tudo girava em torno dele.
A rua! Ah a minha rua! Ela era sem calçamento, coberta por uma relva que a protegia; Algumas casas pareciam curiosas, quase se acotovelando de cada lado da rua; Elas eram contidas por de trás de cercas de balaustre. O cenário era bucólico, mas muito agitado e de muito amor. O banco de madeira, do lado de fora, ao lado do portão de entrada dava o toque de graça na singeleza desta paisagem. Era o convite para um bom bate papo ou para o costumeiro passatempo.
Introspectei e me vi viajando, num galope danado nos meus pensamentos, rumo à rua querida de minha infância. E assim cheguei lá.
Estava em frente a minha casa numa quimera que me deixou feliz.
Fiquei a um canto observando com vontade de participar dos bate papos, de gritar, de brincar com a molecada, mas me contive, e até porque não participaria, não brincaria, pois era um mero e invisível observador.
A noite morna empurrando o entardecer achegava-se acompanhada do luar que na amplidão resplandecia tudo. A lufa-lufa do dia aos poucos dava lugar ao sossego do recanto do lar. A fumaça das chaminés indicava à hora do jantar. Os lampiões, lamparinas iluminavam fumegantes o ambiente. Um rádio a bateria, assentado numa prateleira, resmungava, num chiado danado uma canção qualquer ou a novela preferida.
O jantar foi servido e sintomaticamente após, a casa ficou vazia. A petizada se reuniu na rua em frente da casa para os folguedos da noite. Pega-pega; esconde-esconde; amarelinha; pula corda e tantas outras brincadeiras juvenis.
Nos bancos de madeira, os casais se assentavam para colocar a conversa em dia e cuidar de seus filhos; Sempre tinha aquelas vizinhas que, a fim de ficar mais perto dos filhos que brincavam, se achegavam para ouvir ou contar alguma novidade ou fazer alguma inocente fofoca.
Muita gritaria da molecada e muito riso das pessoas em conversa.
Como era linda e cheia de felicidade a vida singela naquela época.
A gurizada brincava, suava, brigava e se entendia a seu jeito.
As horas, apressadas passaram rapidamente.
O campanário, mais adiante, anunciava com o badalar metálico de seu sino às nove horas da noite.
A noite era morna ainda, e a lua a pino espiava sorridente a minha rua.
De repente ouvia-se em cada banco de madeira uma voz ordenando à petizada a hora de se recolher. A algazarra foi se acalmando pouco a pouco, e cada um foi se achegando para dentro de sua casa.
- Boa noite vizinha! Boa noite compadre! Eram os comandos que se ouviam cá e lá, e aos poucos a rua se vestiu de silêncio.
Sentei-me no banco de madeira e fiquei ainda escutando a petizada em choramingo rejeitando lavar os pés para ir dormir. A lua aproveitou e veio deitar sua luz no banco e no meu colo. Ficamos os dois contemplando a quietude do local.
Tudo pelas redondezas se tornou sorumbático, e cuidadosamente a rua trajou-se de um sacrossanto silêncio, apenas, lá dentro de cada casa, aqui e acolá alguém rezava um terço ou uma oração qualquer para dormir.
Os lampiões, as lamparinas e as velas pouco a pouco foram se apagando. No céu a lua já declinava. Sentado ainda no banco de madeira da frente de minha casa vivi mais alguns momentos e ouvi os últimos queixumes de uma ave de rapina que voou rasante, e o ladrar de algum cão assustado ali por perto, e não me contive, chorei de tristeza e de saudade. Tristeza porque este cenário já não existe mais; Há muito tempo foi engolido pela maldita tela chamada televisão, e por fim chorei de saudade porque voltei a minha realidade. Na minha realidade vou criando cenários também, que serão no futuro lembrados com saudade por alguém.