VIAJANDO.....VIAGENS.

Noto como certo, e não podia deixar de ser de outra forma, é da natureza humana, que todos se ligam em temas de viagem.

Realmente, cada qual impulsionado por sua inclinação, viaja, gosta de viajar, raras as exceções. Há quem goste de ficar em um “resort”, com seus confortos, outros de ganhar mundo descobrindo hábitos e maneiras diferentes de viver, outros mais, que se lançam dentro de navios que por maior sejam trazem uma certa clausura e uma breve visita onde aportam, limitadíssima.

Acho que os levados pelo jogo fazem mais esta opção, hoje com os riscos da “ischeria choli” e outros desconfortos, até o de aportar nas praias italianas,desgovernados como recentemente aconteceu, “caspita”....

Antigamente os “graúdos”, principalmente idosos, abastados, só viajavam de navios, era chique, hoje é o contrário. Jantava certa vez em Amsterdam, tinha uns quarenta anos, e o vinho que tomava caiu na mesa, copo derrubado. Um casal muito idoso na mesa ao lado, sempre muito próximas as mesas como é na Europa nos restaurantes, disse, “boa sorte”, falou o senhor. Agradeci e puxaram conversa, perguntando se era lua de mel, rimos eu e minha mulher. Estavam dentro de um navio fazia oito meses, davam a volta ao mundo curtindo e em total conforto com o hotel ambulante. Chamavam de sua casa e faziam isto por vezes. Eram americanos, ele trabalhava com petróleo quando na ativa.

Nos tempos dos turbos-hélices, “constelations”, quando se parava na Ilha do Sal para reabastecimento, levava-se 24 horas para atravessar o Atlântico, minha faculdade foi em uma dessas aventuras...eu não, minha mãe cortou embora amigos fossem lá pedir para liberar Não perdi nada, foram fazer bagunça, que se faz em qualquer lugar quando jovem, mas queria ir e não fui.

Viajava-se muito de navio, nunca fiz nem antes, nem agora, acho difícil encarar uma dessas, hoje, com os problemas de cheias, nem pensar.

Não me botam dentro de navio.....ninguém...já basta alguém ter conseguido me levar uma vez na Argentina, lugar que tinha antipatia de graça e nunca fui, e estava certo, e detestei, tirando o teatro que transformaram em livraria, só isto de interessante, nada tem para ver, a tal ponto que não consegui comer um só "bife de chouriço" de qualidade, nem no " famoso" Puerto MMadero, e o dono de um bom restaurante em Búzios, argentino, na Rua das Pedras, quando lhe falei disse que era porque ele trazia os bons chouriços, importava todos.... viva o Rio...

Minha curiosidade e minha agitação não permitem me deixar nos braços da inércia. ainda bem, queimam-se calorias...

O desejo de educar meus filhos de forma abrangente, que devia ter sido maior, (me arrependo hoje, embora todos tenham formação universitária e conheçam linguas que possibilitem viagens independentes) como faziam na Fundação Getúlio Vargas em Nova Friburgo, padrão do ensino nos anos cinquenta/sessenta, onde estudaram grandes cabeças e minha mãe vetou minha ida, pela sua gigantesca preocupação e temores que tinha de tudo, já que lá se ficava, e de onde levavam os alunos para conhecer ao vivo a história, didática vanguardista.

Isto fez com que levasse minhas crianças para conhecer a história do Brasil de perto, explicada por mim na Bahia, nas cidades históricas de Minas e no Rio. E os introduzisse no conhecimento de artes através de livros, conhecem, mas não são apaixonados... tenho uma filha que pinta bem, mas parou, casamento, etc...

Depois que se soltaram, casados, meu filho mais velho não gosta de ir na Europa, só na Itália, Toscana, está no sangue. América do Norte nem falar, no que me alinho com ele, tirando o teatro e os museus, Nova Yorque é multinacional, desde o “bull” de Wall Street, pequena ruela que arrasou moedas asiáticas e quase a nossa, até às raças.

Mas sobram com destaque, para meu gosto, seus museus, que releva notar pela excelência de seus acervos, muitos escorados por financistas que ao menos usaram bem seus dinheiros, em prol da educação, até a arquitetura de Corbusier. Mas não gosto da cidade, é bom para as mulheres que gostam de comprar, não é o caso da minha família, que compra normalmente, porém, certa vez saíi da Europa para Nova Iorque somente para ver o show de natal da “Radio City Music Hall”, por ter visto antes em visita ao espaço o que podia ser aquilo neste evento, natal. Realmente era... Um espetáculo com as roquetes em isocronia de passos evoluindo e extasiando, dezenas. Mas EUA, torço o nariz...principalmente Miami.

Da Europa meu filho gostou da Holanda, também, compreende-se, mora numa APA, na serra, como nos arredores da terra de Van Gogh, e embora advogado é ativista ambientalista. Mas realmente é um país lindo, que com calma pode ser conhecido até de bicicleta, e embarcá-la nos vagões de trem próprios, afinal é país baixo, nada têm de subidas, Holanda. No fim de semana são vistas famílias inteiras, pedalando ao lado das rodovias. Vão e voltam de trem querendo a lugares fantásticos como Volendan, porto onde se come um peixe no meio das peixarias em limpeza indescritível e sem o cheiro comum destes locais, ou ver as milhares de tulipas em criatórios.

Mas a motivação maior de meu filho é mergulhar em profundidades, naufrágios em todos os pontos onde aconteceram e nadar ao lado de tubarões ou explorar cavernas submersas. Me atemoriza um pouco, nada posso fazer. Rola por aí com essa vontade.....e gosto.

Mora na serra, mas seu quintal é Fernando de Noronha e Arraial do Cabo, ícones do mergulho no Brasil, quando não vai mergulhar fora em muitos lugares, como fez na ponta de Cuba, " Maria La Gorda" centro de mergulho, e um mês depois um furacão arrasou toda a região,e a pequena reserva de mergulgo ambiental onde estava. E é acompanhado por sua mulher, ambos “divers” de grandes profundidades com cursos de resgate certificado pelo controle mundial da atividade. Ele aponta Bonaire como uma das maiores barreiras de coral do mundo, depois da Austrália, mas é local só de mergulhadores.

Minhas outras duas filhas são mais quietas, protagonizam seu gosto, com calma, são mais da região dos lagos e foram ao exterior como normalmente se vai, nos locais mais visitados.

Eu fui um aventureiro com minha mulher, esgotei tudo que gosto, e chegava a dizer para minha companheira, não volto mais, e voltei muitas vezes e volto, hoje mais comedidamente, para flanar, está o mundo todo muito cheio, minha rua não passava nem cabrito, hoje para tirar um carro da garagem tem que esperar a caravana passar, é praticamente a última casa de onde as imobiliárias querem me expulsar em assédio permanente para me enclausurar em “apertamentos”. Ponho todos para correr, derrubaram tudo na minha rua, acabaram com o bucolismo de Niterói.

Já fui muitas vezes onde queria e voltei sempre, e onde não me seduziu nunca mais voltei, tipo Londres que tanto falam e não suporto, ou Portugal que destaco Cintra, uma Suiça galega, e Fátima por ser um lugar sagrado.

Uma das mais alegres viagens que fiz em minha vida foi ir com todos em Orlando trinta anos atrás, uma festa só, fui outras vezes contra a vontade, minha mulher gosta, agora estou condenado a ir naquele “parquinho”, como diz um amigo, com minhas netas, em futuro próximo, mas vendo o sorriso delas já compensa.

Meus filhos falam que ficavam preocupados por onde andávamos eu e a mãe deles, saciando nossas curiosidades, embora telefonássemos todo dia. Tivemos sorte, temos os mesmos gostos, desbravadores do belo que se encontra nas artes em geral, a tal ponto que ela ficou tão conhecedora dos vidros célebres, Emile Gallé e Lalique, que chegou a ajudar nossas economias, comprávamos na Bélgica e vendíamos em Paris, no “Louvre dos Antiquaires”, na Rue de Rivoli, ao lado do Louvre, descendo na estação do metrô "Palais Royal-Musée du Louvre”, isto já pagava nossas passagens. Lá negociávamos os vidros.

O Louvre des Antiquaires, é um museu ao vivo, onde nada se paga para ver as lojas, uma festa para os olhos de quem gosta de arte em geral, ou mesmo não gostando vai ver de tudo, altamente conservado em suas mais de duzentas lojas, objetos de séculos passado, de todas as espécies como “bowls” (tigelas) e jarros de Imari, chineses, de duzentos, quatrocentos anos, com seus dourados intactos, tal a qualidade da tinta usada nas peças, até bengalas do século passado, tardio ou não. E fica vazio.......Muito diferente das “pulgas” da “Porte de Clignancourt”. Um mundo, um bairro todo, mercado das pulgas, um dos maiores do mundo, mas com qualidade diversa e hoje é preciso atenção com a segurança. Vale o registro que referi, e o fiz como singela indicação.

Seria cansativo para o leitor enunciar pontos de arte (milhares) e entretenimento, como o fantástico Crazy Horse,mulheres feitas à canivete e mesma altura dançando artisticamente com corpos esculturais e se engordarem gramas são demitidas. Ninguém fala deste local, na verdade é caro, e o mais famoso, só sinalizam os enfadonhos “Moulin Rouge” e “Lido”, absolutamente sem graça, todos pertencentes a grande Paris, a primeira cidade que é das mais visitadas do mundo com 27 milhões certa feita.

Falar sobre história e locais europeus, complicado, e impossível(!!!), penso mais recente para declinar alguma coisa a mais, na Normandia onde fui para entender como lançaram dois milhões de homens em algumas horas nas praias da Mancha, no famoso dia “D”.

Passei a entender a fantástica estratégia dos aliados e as mortes da "Frente de Omaha", americana, que vi em cinema especial em Caen, capital da Normandia, filme no original filtrado ,os jovens soldados morrendo como insetos na chegada à areia metralhados pelos “bunkers” alemães destronados pelos famosos “rangers” americanos, milhares de paraquedistas lançados do céu.

Era noite e um deles o vento levou mais para o interior e caiu na agulha da igreja de um lindo lugar, até no nome, “Colombey Les Deux Eglises”. Caiu nesse lugar e ficou pendurado de lado com as cordas enlaçadas pela agulha na ponta da igreja, e como os alemães ainda lá estavam se fingiu de morto e só pela manhã, com a retirada dos alemães, ele gritou muito e os moradores da aldeia o tiraram. Até hoje lá está um boneco e um paraquedas na mesma situação em que ficou o “ranger”, perenizando o fato histórico. De Gaulle quis lá ser enterrado, em Colombey, embora nascido em outro local na França. É um brazão do dia "D".

Estão lá os vestígios desse dia, muitos e muitos, nas praias do desembarque, nos muros de martírio onde as marcas das balas que mataram não são apagadas, milhares de histórias dentro da história, com suas cruzes brancas em muitos cemitérios onde foram enterrados jovens, meninos, a quem devemos, todos, a luta pelo nosso maior bem, a Liberdade.

Mas vale discorrer, para não me alongar, o que me vem à lembrança e é marcante, e poucos sabem, a razão de existir do Cemitério Père Lachaise, onde inumeráveis celebridades estão sepultadas, inaugurado com os restos famosos dos grandes amantes, Abeylard e Eloise, cuja história é muito conhecida e foi tornada filme, e sempre separados foram unidos neste cemitério muitos anos depois de mortos, o professor de filosofia e sua amada, que depois de um gigantesco amor, com final trágico, foram para o claustro.

Padre Lachaise, o confessor de Luiz XV, que pediu uma área ao Rei para abrigar meninos pobres, fez alí um lagar. Local de plantio de uva e feitura de vinho.

Naquela época os sepultamentos eram feitos ao redor das igrejas, que ficaram exaustas.

Onde hoje é o bairro “Les Halles”, central em Paris, pasmem, o antigo e conhecido “estômago de Paris”, onde estava o grande mercado de abastecimento de víveres e de muitos restaurantes, foi feito um novo cemitério, precisamente onde fica a “Fontaine des Inoccents” em nossos dias, perto do conhecido Beaubourg.

Este cemitério era a céu aberto....surpreendam-se!!!!!

Como era isso(?), um buraco de mais ou menos 400 metros quadrados com quinze metros de profundidade, onde se colocavam os defuntos um em cima do outro cobertos com “fina camada” de terra, e ia-se empilhando. O cheiro na região era tão insuportável que as pessoas viviam sob o efeito do “rouge”, o vinho tinto à vontade, para tentar amenizar o cheiro.

Em muito anos chegou ao nível da rua tal pilha funesta de restos, e cães e porcos reviraravam o que os historiadores chamam de “petiscos” para os bichos.

Foi então que o problema sanitário era tal que o Estado tomou posse do Père Lachaise para fazer o cemitério.

É uma história entre milhares que podemos conhecer pelos livros, e vendo ao vivo os lugares satisfazem nossa curiosidade.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 21/04/2012
Reeditado em 27/04/2012
Código do texto: T3625103
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