Os Pestinhas
Minha cunhada, uma católica convencida, estava deprimida com desejo de sumir: não aguentava mais o serviço de casa, o marido e principalmente seus dois pestinhas, Pedrinho e Marcela.
Ela e o esposo eram os responsáveis pelo encontro de casais da igreja Cosme e Damião no Andaraí. Promoviam festas, eventos, reuniões e parecia o casal mais feliz da paróquia, motivo do marido não entender a razão de tanta tristeza da esposa:
- Pó Dalva, o que está havendo, assim não dá, a gente tem que parar de aconselhar e procurar alguém pra te ajudar!
Foi o que Dalva fez. Lembrou-se de Dona Francisca, a beata mais antiga do clero e foi a casa dela.
- Entra minha filha, senta ali no sofá, enquanto vou buscar água pra você beber!
Dalva já chegara aos prantos, os olhos inchados de tanto enxugá-los com o lenço.
- Não precisa não dona Francisca, estou bem... Estou bem...
As duas sentaram, conversaram muito e no final dona Francisca falou:
- Olha minha filha, domingo a missa vai ser com o padre Anestésico, não deixe de ir, a pregação será sobre o amor... Ele é ótimo!
No domingo seu marido não pode ir e ela foi com seus pestinhas: Pedrinho e Marcela. Realmente foi uma benção, o sermão só não foi melhor “do da” montanha, mas deixou Dalva mais calma, sua ansiedade aparentemente sumira e quando saiu parecia outra.
Infelizmente seus dois pestinhas ainda eram os mesmos: caminhavam na frente provocando um ao outro, puxões de cabelos, empurrões e a mãe, lembrando as doces palavras do padre, dizia:
- Olha o amor meus filhos... Olha o amor!
Enquanto brigavam, ela recordava as palavras do santo homem, seu meigo olhar a estátua de Maria, na pregação do amor. E brandamente repreendia os filhos:
- Olha o amor meus filhos...
A cena se repetiu varias vezes, os pestinhas não paravam e, com o tempo, a paciência de Dalva já não era a mesma.
- Bem, já pedi pra olhar o amor... Agora acho bom parar, hein!
Quando próximo de casa, Dalva já não lembrava mais do padre, nem de Maria e muito menos do sermão. Pegou a sombrinha e correu atrás dos seus pestinhas, distribuindo pancada na linguagem que eles entendiam:
- Olha o amor desgraçados... Olha o amor seus pestes...
À noite os pestinhas dormiram tranquilos, infelizmente Dalva continuava a chorar!