O poder de Danilo

Ariel era o nome dele. Magrelo e serelepe, andante e conversador; daquele tipo que não para de falar: enrola, enrola, segue enrolando, te enchendo de abobrinha. Também é dono do maior arsenal de cultura inútil no Brasil, comenta fatos que ninguém sabe; conta piadas sem graça, e não para de cantar, e, por sinal, que voz tenebrosa.

Porém, Ariel é meu melhor amigo.

Não que eu o suporte. Pelo contrário; eu não o suporto. Minha vida é em slowmotion; devagar e sempre, estilo molha-mas-não-chove, sabe? Nunca me apresso, faço tudo com a maior frieza do mundo. Diz-se que a pressa é a inimiga da perfeição. Esse é meu lema.

Vale constar que é o total oposto de Ariel. Ariel é brincalhão, do tipo que fala, fala, fala até teus ouvidos incharem; canta, canta, canta até tu não conseguir mais diferenciar tons. Ele não para nunca, nunca parou, e não pretendia parar até conhecer Danilo.

Dizem que esse tal Danilo salvou nossas vidas, eu digo: talvez.

Tudo começou na noite que o Ariel chegou correndo, bufando, comendo palavras, como sempre, e disse pra mim:

- Que bom te ver aqui! Tu não tem i-dei-a da felicidade que eu to cara. É tão bom te ver!Tu nem sabe o que tá acontecendo na minha vida; ela deu uma reviravolta nesses últimos dias que tu nem vai acreditar!Tudo por causa dele…

Meu corpo esfriou ao ouvir essa frase. Nunca iria esperar isso de Ariel.

- Dele quem?

Ele me apresentou como Danilo, “aquele que mudou minha vida sexual”. Pasmei. Permaneci em estado de choque por alguns instantes. Não sabia de nenhuma mulher na vida de Ariel que o agüentasse por mais de uma noite, talvez daí o fato dele ter virado gay. Mas meu melhor amigo gay! Eu não acreditava. Blasfêmia. Ariel, aquele que não parava de falar das mulheres famosas, das musas de Hollywood, gay? Nananina não.

Mantive a calma, afinal, não tinha perdido a compostura desde quando o Romário não fora convocado para copa de 2002.

- Ah cara, é uma experiência nova que eu to curtindo…

Antes de ele finalizar, às lágrimas, retruquei:

- E as nossas noites? E os tempos de Ariel, o Imperador?

Eu sabia que sem o Ariel, perderia metade do meu poder galanteador. Ele tinha o remédio para qualquer investida, ele evitava o que todos os homens temem, e sempre temeram: o silêncio constrangedor.

O segredo para um bom charme é não deixar o assunto cair, e nisso o Ariel era craque. Mas agora tudo iria mudar. Tudo culpa dele, do Danilo. Como pode?

Desolado, refutando a dura realidade que seria da minha vida sem Ariel, fui arrastado para conhecer o tal do Danilo. E cheguei lá na sua mesa, ao lado do banheiro, cabisbaixo, quando olho pra cima a conhecê-lo.

- Danilo, esse é o Jonas, meu amigo desde que somos conhecidos por gente. Jonas, esse é o Danilo, que eu te falei.

- Prazer.

- Prazer.

- E Jonas, essas são nossas amigas: Júlia, Bárbara, Raquel, Linda e Gisele.

Ao ouvir o “oi” em uníssono entoado pelas amigas do mais novo casal, que abri um sorriso.

Como é bom ter um amigo gay.