Pequena descrença na humanidade

É de se duvidar da salvação da alma daqueles que recusam todo e qualquer panfleto que é oferecido nas ruas. Quase todo dia, um jovem me entrega a propaganda de uma auto-escola. Ele já me conhece de vista, e eu já sei exatamente do que se trata o papel. Não estou interessado na sua auto-escola. E, no entanto, todo dia, pego o panfleto. Pego porque sei que ele precisa que eu faça isso - não é por outro motivo que me agradece. Em sua jornada de trabalho, ele precisa se livrar dos papéis. Pode jogar todos numa lata de lixo ou pode oferecer um para cada pessoa que passa. Tendo eu braços perfeitos e saudáveis, não me parece grande esforço esticá-los por um momento - e, em seguida, esticá-los outra vez para jogar o papel na próxima lata de lixo.

Pessoas há, no entanto, que enxergam no panfleteiro o verdadeiro anti-Cristo. Ao ver que um papel está sendo oferecido, sentem-se ultrajados como se fosse uma ofensa pessoal. E, por isso, não apenas se recusam a pegar como inclusive fazem cara feia - isso quando não resmungam algo. Existem outros que acreditam estar ajudando se apenas sorrirem e falarem "não, obrigado". Ora, a simpatia é um bom pagamento, mas não resolve o problema do panfleteiro em se livrar dos panfletos. Quem consegue ser simpático ao negar, será mais ainda ao aceitar - e isso não causará nenhum grande esforço nesse mundo cristão.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 20/04/2012
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