Protagonista de enganos
Minha vida sempre foi cheia de enganos. Já me deixei enganar demais. É! Eu me deixei! E, hoje, eu tenho uma preguiça enorme de gente que se engana. Que mente o tempo todo quando diz: "eu nunca minto, nunca menti pra você!". Mal sabe que isso já é uma mentira! Pior sujeito é o que se deixa enganar por si mesmo. Porque se é alguém que nos engana parece que o "peso" é diferente, sabe como? (É como ter em quem por a culpa.).
Acredito que nossas dúvidas (eternas), nossos arrependimentos, breves certezas, intensas contradições, detalhes que não esquecemos ou que não se perdem de nós. Noites e noites. Lágrimas, sorrisos. Fica tudo ali. Como público. Expectadores de derrotas. E eles vaiam. Vaiam tudo. Só aplaudem se deixarmos. Você deixa? Deveria! E eu deveria deixar também.
Inúmeras vezes baixei a cabeça enquanto vaias me alcançavam como tomates podres, vindos de todos aqueles pedaços de mim. Tão incompletos. Tão imperfeitos. Tão lindos. Loucos. Meus. Partes exatas minhas!
Ainda me engano. Tenho preguiça de mim. Tem dia que não me aguento por perto. Sei que sou difícil e às vezes vou além dessa dificuldade.
Tenho tentado não me enganar. E mais ainda: não ser enganada! Já deixei muitas peças encenarem em mim, eu mesma já protagonizei várias. Cenas de amor, de desespero, de medo, de mágoa, e muitas, muitas, de engano, de perder de vista e dedos pra contar.
Nós somos palco do resultado de todas as nossas escolhas. É tipo bate-e-volta. Vou deixar os aplausos tomarem conta desse meu teatro antes que eu sinta tanto medo do engano que nem queira mais tentar ou que deixe de acreditar nas pessoas.