Surpresas

Sabe que esses dias aconteceu uma coisa engraçada. Eu estava atravessando a rua, voltando pro escritório, e o sinal estava aberto. Vinha um Fiat Punto vermelho, dando seta pra entrar à direita. Mas era contramão, e ele veio vindo bem devagarzinho pra ver. Sabe quando a pessoa vai virar o carro, vê que é contra-mão, e segue reto como se nada tivesse acontecido? Então. Eu estava parado bem no meio da rua, esperando ele passar pra poder atravessar. Quando estou meio sem paciência, acabo erguendo as sobrancelhas, como quem diz "faça qualquer coisa, mas por favor, faça rápido!". Aí o sujeito viu minha cara e, por incrível que pareça, também ergueu as sobrancelhas.

Eu não esperava por isso. Ninguém, dirigindo um carro, olha pra cara dos pedestres que estão atravessando a rua e imita a cara dele. Fui surpreendido.

Falando em ser surpreendido, acabei me lembrando de outro fato, de quando era criança. Não sei como é em outras cidades, mas em Curitiba a festa junina é dia de tomar quentão e comer pinhão. Quentão é um vinho diluído em água e servido bem quente (na escola era suco de uva), que eu odiava; e o pinhão, se você não sabe, procure no google.

Como era escola pública, não havia ninguém muito preocupado em limpar tudo depois da festa, e nós encontrávamos pinhões por aí até um mês depois!

Eu lembro de estar numa conversa meio morta com alguns amigos, e de estar descascando um pinhão; até que eu consegui extrair a parte comestível de dentro perfeitamente, que estava dura feito pedra, parecia um dedo. Claro que eu não ia comer, então virei pro lado e tentei jogar longe. Nisso, passavam por ali duas garotas da minha sala, sendo que uma delas eu não ia nem um pouco com a cara. Ainda não sei como isso aconteceu, pois pela forma torta que joguei aquele pinhão, ele só poderia estar teleguiado pra ter acertado. Sim. Acertou nas bochechas gordas e vermelhas (que ficaram ainda mais vermelhas, também de raiva), da menina que eu odiava. Lembro de ela olhar pra mim com a cara toda vermelha, e a mão na bochecha e dizer "filho da p*!".

Ah, como eram bons os tempos da escola! Principalmente o ensino fundamental, quando eu não tinha nenhum motivo sério pra me estressar. Não sei ao certo, mas acho que eu e meus amigos éramos conhecidos pelo colégio como um bando de retardados. Nós fazíamos as brincadeiras mais idiotas possíveis, como fingir que havíamos tropeçado pra chamar atenção (até que ficamos bons, às vezes rolava umas cambalhotas que costumavam abrir furos nas roupas), jogar malha com uma garrafinha (aquele jogo que, se a bola passar por entre as pernas de alguém, os outros vão chutar a pessoa até ela encostar numa trave, ou poste, ou porta, no nosso caso), geralmente a gente gritava "malha!" sem motivo, só pra dar chutes nas pernas de alguém chato; e tinha uma brincadeira na sala de aula, que eu gostava bastante. Nela, cada um falava um detalhe, e a pessoa tinha que desenhar formando um personagem. Por exemplo, eu dizia "nariz de palhaço", e alguém dizia "orelhas de cachorro", e outro dizia "chapéu de cowboy". Saíam coisas super engraçadas, mas o mais divertido mesmo era ver como ficaram as versões de todos que participaram.

É, eu não ligava muito pro que eu fazia nessa época, mas acho que, se voltasse no tempo... faria tudo de novo.

O Estagiário
Enviado por O Estagiário em 19/04/2012
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