Segundo...
Caminho. Em minha mente, tudo se mistura. Um segundo.
A moça que atravessa. O espaço entre o olhar e o que se pensa , e o que se faz. São gestos, são minúcias, são lampejos. Consciente do inconsciente.
Imagens, olhos, cores, luzes, e o que poderia ser dito se os olhares parassem, ou o que poderia ser olhado se as palavras gritassem. No mesmo ritmo do vento. Um segundo para que aconteça o que nunca se esperou, ou sempre se esperou, mas nunca se acreditou. Poderia ser? Poderia não ser? Pode ser agora. Um segundo apenas.
Os passos não param. E o segundo, o outro segundo, aquele que se esperava, agora é mais um segundo. Ou é o mesmo segundo, o mesmo que se repete em outras imagens? O segundo, o momento em que o mesmo espaço se encontra. Existira antes esse segundo? Se não existira, porque existe agora? E se existira, porque se repetiu? Nada acontece por acaso. Mas o nada já é o acaso, porque ninguém planeja o nada. Ele acontece. E se ele acontece, ele é por acaso. Nada acontece por acaso. Isso é uma afirmação de que o nada realmente acontece sem que se planeje. E quando esse nada acontece, tudo pode ocorrer. Tudo o que nunca se esperou exatamente porque o nada aconteceu sem que houvesse plano.
O tudo é a decorrência do nada que aconteceu por acaso.
E os passos adiantam, novamente mais um segundo. A luz que se vê é num segundo também, mas no mesmo segundo? Aquele que se está repetindo a cada lampejo...
Os segundos me parecem os mesmos, mas os lampejos se misturam. E o caminho aparece, e leva. Para o nada. Tenho certeza de que sou e serei sempre o resultado do nada que aconteceu sem que se esperasse... Num segundo.
(Adriana Luz)