Tô de saco cheio!
 
 
Já passei dos cinquenta anos e trabalho desde os quinze.  Desde os dezessete mantenho, no mínimo, duas atividades e, até hoje ainda me ocupo, em média, de doze a catorze horas por dia, no mínimo seis dias por semana.  Sustentei os meus estudos, que tive de interromper duas vezes, mas isso não me impediu de colar grau em duas faculdades.  Já “quebrei” duas vezes e isso não me impediu de me reerguer pelo meu próprio esforço.
 
Tenho carro, casa e um mínimo de conforto. Porém, pago impostos para morar no que é meu, circular no que é meu e usufruir do que é meu.  Desde sempre, despesas com educação e saúde, para mim e para os meus, eu as venho pagando a particulares, porque os serviços públicos são terríveis. O pouco que me sobra, distribuo a verdadeiros necessitados.
 
Porém, tô de saco cheio!
 
Não herdei meu trabalho, assim como não herdei minha renda (nem a tomo do esforço de ninguém). Não nasci sabendo, mas me esmerei para me educar e qualificar. Não “descobri” minhas crenças, nem as ganhei de presente e, tampouco, as emprestei de ninguém; ao contrário, eu as absorvi pela vivência e fiz minhas próprias escolhas.
 
Ainda assim, tô de saco cheio!
 
Tô de saco cheio de ter de ver gente pedindo de graça, ao governo e aos outros, que se lhes dêem casa e comida sem que tenham de fazer o menor esforço, além de protestar pelo “direito” de serem sustentados pela sociedade.
 
Tô de saco cheio de ter de ver gente querendo me convencer que eu preciso entregar o que ganhei com duro esforço aos vagabundos, aos drogados, aos desonestos e aos incompetentes. Isso não é distribuição de renda nem assistência social; isso é forçar que os que são probos, trabalham e pagam impostos devam manter apaniguados os que só sabem reclamar sem contribuir com nada para o bem comum.
 
Apesar de eu ser firmemente contra qualquer discriminação, seja contra mulheres, seja contra negros, seja contra homossexuais, tô de saco cheio de quase ter de me desculpar por ser homem, branco e heterossexual, porque na defesa de seus interesses alguns extremistas desses grupos fazem parecer que eu deva ter vergonha do que sou.
 
Tô de saco cheio de ver gente ignorante entregando o que não tem para estelionatários inescrupulosos e enganadores espertalhões que juram que falam  e agem em nome de Deus.  Essa gente crédula e infeliz, não satisfeita em se degradar em antros de mentira, achincalha os verdadeiros crentes que são todos aqueles que resguardam o bom senso de ver na fé em Deus uma forma de aperfeiçoamento no bem e não um comércio para cobrar favores do Céu.
 
Tô de saco cheio deste mundo infestado de muitas falsas vítimas, que se misturam às verdadeiras para esconder sua incapacitação como seres humanos, sua inapetência para o estudo e o trabalho e sua sem-vergonhice mal camuflada sob o manto da hipocrisia.
 
Tô de saco cheio!