O rio do tempo e o oceano das eras
É impossível segurar o tempo: ele se vai, queiramos ou não. O tempo passa inexoravelmente e nós também, querendo ou não. Ontem eu era menino, hoje sou quase idoso. Morremos todos, indiferentemente, tanto os preocupados quantos os despreocupados. Penso que bom mesmo é gozar a vida, porque ela um dia, que pode estar próximo ou distante, terminará.
Diz a ciência – todos nós o sabemos – que os preocupados ou ansiosos morrem mais depressa. Não sei se é verdade, não quero discutir isso nem posso, academicamente, fazê-lo, porque não sou médico nem biólogo nem psicólogo nem qualquer outra autoridade no assunto. Presumo que esses profissionais o sejam. A coisa, contudo, parece muito lógica. Basta, portanto, raciocinar um pouco e logo se chega a essa conclusão.
A Bíblia – que não é livro de ciência e, por conseguinte, seus ensinamentos são aceitos pela fé ou rejeitados pela ausência dela – tem recomendações contundentes sobre a matéria. “Qual de vós poderá, com as suas preocupações, acrescentar uma única hora ao curso de sua vida?” (Mt 6.27). E, logo mais à frente: “Portanto, não andeis ansiosos pelo dia de amanhã, pois o amanhã se preocupará consigo mesmo. Basta a cada dia o seu próprio mal” (Mt 6.34). Há, claro, outras versões, que dizem a mesma coisa com outras palavras.
Isso, todavia, é matéria de fé – repito. E eu também não quero discutir a fé. De jeito nenhum. Não quero, não me interessa. Há muito, cheguei à conclusão de que não devo fazê-lo. As pessoas, não raro, são extremamente arrogantes em matéria de fé, crença ou descrença e eu ando enojado de arrogantes. Eu tenho medo, muito medo, dos donos da verdade. Até porque tenho convicção – e esta, asseguro, absoluta – de que a verdade não tem dono.
Não quero aqui discutir coisa alguma. Escrevo tão somente por escrever, embora acredite no que escrevo. Quem quiser que tire suas conclusões. Apenas me lembrei do rio do tempo e do oceano das eras, expressões que designam o passado remoto. Uma, a primeira, aprendi de Rubem Alves, lendo uma de suas belas crônicas; a outra, do autor de um livro de Introdução à Ciência do Direito, de cujo nome, infelizmente, no momento não me lembro.
Tenho apego ao passado e carinho especial por ele. E acredito na teoria do meu amigo Liberato Diniz Barroso, lá de Belém do Pará. Para quem não lembra, resgato aqui o que ele deixou poeticamente registrado, dia 6 de abril de 2012, em comentário do Facebook: “Tenho uma teoria meio maluca que cultivo desde os tempos etílicos: o tempo que passou está guardado em algum lugar, que poucos descobriram. E que pode, a qualquer momento, voltar.”
É verdade! Ih, verdade!?... Ah!... Dizem, academicamente, que há verdades socialmente constituídas e verdades socialmente construídas, que dizem respeito, respectivamente, aos fatos que existem apenas em virtude de nossas crenças e aos que existem independentemente delas. Isso leva a outra bela e profunda discussão da gostosa seara da Filosofia, a das concepções de verdade. Isso, contudo, é matéria para discussão em outro foro, porque não sou filósofo e, demais disso, nem todo leitor gosta dessas discussões. Mas, quem disse que eu quero discutir alguma coisa?...