Tudo começa pelo primeiro passo
A concessionária, querendo ser simpática ao cliente, deixa correr o serviço do despachante. Os vendedores, de olho numa comissãozinha, como quem não quer nada, enaltecem as facilidades do serviço. O despachante, para realizar seu trabalho de maneira mais fácil e completa, fica ‘amiguinho’ de servidores públicos. Estes, para não perder a rica boquinha, entram na dança. A ordem não tem a mínima importância, pode ser lida de trás para diante. O funcionário do departamento de trânsito que tem o poder de gerar documentos e emplacar carros fica ‘amigo’ do despachante que conta não só com o beneplácito do gerente da concessionária, mas também com a ‘solidariedade’ dos vendedores... Seria normal se o despachante se ativesse a andar atrás dos papeis, tirar fotocópias, ir à Secretaria da Fazenda, pagar os tributos no banco. Uma ajuda e tanto a quem não tem tempo disponível. Mas sabemos que ele não fica em filas, tem a porta aberta para passar na frente dos pobres mortais que por ali estiverem. E o que é pior, associa-se ao servicinho extraordinário de funcionários públicos prestado a particulares, enquanto o trabalho lá no departamento fica emperrado. O último da lista é o cliente, que pensando na sua comodidade, às vezes nem percebe que está sendo corruptor, pois é do seu bolso que sai o dinheiro para alimentar essa cadeia.
Dizem que não adianta reclamar, é verdade, parece que não adianta mesmo. O que deve mudar é nossa atitude, não aceitando esse tipo de serviço. Se não tenho tempo, posso até pagar alguém (de minha confiança) que vá atrás dos papeis por mim, sem furar fila. Depois eu mesma levo o carro para emplacar. Perde-se um pouco de tempo, mas ganha-se muito em cidadania.
A meu ver, essas (e outras) pequenas mudanças no comportamento das pessoas é que fazem o país andar para a frente, sem necessidade de grandes revoluções.
Há muito o que fazer, eu sei, mas tudo começa pelo primeiro passo.