Professor X Alunos
Noite anterior: concentração. Leitura. Anotações. Correção de tarefas. Notas. Apontamentos. Mais leitura. Mais anotações. Sono. Cama.... Despertador... O dia se inicia: mas já? Banho. Aquecimento... Soa o apito e... Começa a partida...
...0 a 0 no placar. Jogador tentando acalmar o time adversário. Mas está difícil. Eles vêm com a corda toda. Encaram o adversário solitário. Testam seus nervos. Jogador Solitário estuda cada movimento. Precisa ser astuto para não decepcionar a grande massa que o espera do lado de fora do gramado. São os Cartolas, donos de seu passe, que precisam agradar a Torcida Organizada, normalmente formada por pais e familiares dos jogadores. São todos pagantes. Cada movimento em falso e os Cartolas podem se transformar em verdadeiros juízes, prontos a lhe darem cartão vermelho e contratarem um novo jogador. E a fila de espera é grande – o Jogador pensa. Volta a estudar os movimentos de seus adversários. Tenta na maciota. Consegue driblar um, esquivar-se de outro, atingir o meio de campo. Sente-se mais poderoso. Tenta fazer os mesmos movimentos com outro atleta, mas esse é mais esperto, não se deixa vencer. Jogador Solitário tenta novamente, agora com mais garra. Parece que a tática funcionou, pelo menos por trinta segundos, tempo suficiente para que ele possa se dirigir a outro que lhe pedia para resolver uma jogada. Jogador Solitário baixa a guarda. Esse adversário fora astuto, soubera atingir o Jogador Solitário em seu pronto fraco. Jogador Solitário resolve o problema do adversário, mas percebe que os companheiros do jovem atleta aproveitam a situação e avançam o meio de campo. Foi um contra ataque de gênio – ele pensa. Jogador Solitário se sente meio perdido. Volta para o seu posicionamento original. Observa os dribles. Não pode perder o domínio da bola, mas não quer dar carrinho em ninguém. Não quer e não pode. Parte para o fôlego. É o único que lhe resta. Tenta atingir a todos de uma só vez. Houve um início de tumulto. Gritaria geral. Parece que não há mais jeito. Jogador Solitário pensa em partir realmente para a ignorância, mas se lembra de que isso pode inflamar a Torcida. Muda de tática. Fica parado durante longos segundos, encarando os adversários. É a sua última chance. Um dos adversários percebe o olhar penetrante do Jogador Solitário e avisa os companheiros. Alguns se ajeitam, outros ainda tentam invadir, mas são detidos pelos companheiros. Silêncio repentino. Jogador Solitário, enfim, pode mostrar a todos tudo o que sabe, ensinar algumas jogadas, mostrar algumas táticas de jogo... Um adversário entende as jogadas do mestre, aceita-as e passa a bola para os demais, que também recebem e vão passando adiante... A bola está novamente nos pés do Jogador Solitário. Ele resolve não ficar com ela. Devolve-a rapidamente e fica na expectativa, embaixo da trave... Alguém levanta a mão e parte pra cima do Jogador Solitário. Ajeita o corpo. Estuda. Olha fixamente para o local onde se encontra o Jogador Solitário. Expectativa Geral. Jogador Solitário também espera para ver como será o chute do adversário. E o adversário se prepara. Toma distância. Corre e dá um chute, forte e decidido. A bola vem, como um verdadeiro balaço. Jogador Solitário oscila, tem medo de dar um passe errado, mas acerta em cheio. A bola volta, atinge o meio de campo, entra nas mentes preparadas, volta para a trave, atinge os ouvidos do Jogador Solitário, pega um efeito e é.... é... é... é ... ÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉ...GOOOOOOLLLLLLLLLL!!!!!!!!!!!!! Gol do time adversário!!!!!!!!! Gol também do Jogador Solitário!!!!!!!!!!!!!!!!! Soa o apito final!!!! Torcida vai à loucura!!!!!!!! Jogadores se confraternizam. Saem em bandos. Combinam de trocarem as camisas e irem comemorar no shopping. Um dos chefes da Torcida Organizada que os espera do lado de fora do gramado se propõe a levá-los...Ninguém se lembra de parabenizar o Jogador Solitário que ainda está em campo, suado e ofegante. Ele se prepara para se retirar. Recolhe os materiais utilizados durante o jogo. Pensa que, afinal, a partida fora boa para ambos os times... Sente dores no corpo, especialmente na região da cabeça. Volta para casa, exausto, porém satisfeito. Chega em seu habitat, descansa por alguns minutos. Revê alguns lances da partida daquele dia. Estuda suas oscilações. Toma um longo banho. Prepara-se para o dia seguinte. Amanhã é dia de jogo outra vez – pensa. Chega à conclusão de que realmente precisa se preparar mais para enfrentar os outros adversários. Promete a si mesmo que irá melhorar seu condicionamento físico e mental e que saberá como lidar com os atletas do próximo jogo. Esses agora são da chave A, não pode dar mole para o azar – pensa, antes de pegar seu material de treino e voltar para a concentração.
(Adriana Luz)