Perguntar não ofende
Na literatura, geralmente, as personagens que fazem mais sucesso são aquelas responsáveis pelas surpresas na obra, aquelas que atrapalham a vida das outras personagens, que acabam com uma festa, que são inconvenientes... Sem elas, com certeza, as histórias se tornariam até monótonas... Um bom escritor, que tem consciência disso, acaba se valendo dessas personagens para que suas histórias prendam a atenção do leitor... Mas e na vida real, como isso funciona? Vamos aos exemplos:
Visita inesperada, quer coisa mais constrangedora e até inconveniente? Ah, você não acha que ser pego de surpresa, com rolinhos na cabeça, com a cara cheia de cremes ou, pior, com os cabelos desgrenhados, cara amassada e roupa num estado deplorável, seja constrangedor? Então, deixe-me piorar a situação. Que tal tudo isso e mais a geladeira vazia, o banheiro sujo, a pia da cozinha cheia de pratos com restos do jantar da noite anterior e papéis e mais papéis relacionados ao seu trabalho espalhados pela casa? Nada de mais? Bem, vejamos... E tudo isso, aliado ao fato de você estar se preparando para ir a uma festa com aquela pessoa especial, aquela mesma que você passou a vida inteira tentando conquistar e, finalmente, dali a meia hora (e você não poderá se atrasar!) passará para pegá-la? Detalhe: Você não quer que ninguém saiba desse seu encontro. Ah, agora a coisa pegou, não é? Que bom! Porque se ainda assim , você achasse tudo normal, eu diria que você é do time daqueles que não estão nem aí para o que os outros pensam a seu respeito... Isso seria um elogio? Nesse caso, não, ao contrário! Cuidado! Luzinha vermelha piscando!
Essa postura pode revelar que você é uma pessoa inconveniente... Desculpe-me a franqueza, mas, geralmente, as pessoas que dizem não ligar para frescuras não respeitam a ‘frescura’dos outros...
E é aí em que mora o perigo... Muitos acham aquela máxima perfeita: Não fazer aos outros o que não querem para si próprios...
Mas, e se para si próprio você aceita tudo? Então você vai achar que pode fazer tudo com o outro que estará tudo bem... Será que é por aí? Tenho certeza de que não... Muitas vezes, o que é bom ou normal para você não é para o outro... Então, como saber se estamos agindo de maneira correta com o outro? Bem, que tal começar perguntando para o outro o que ele acha de tal e tal atitude? Por exemplo: vai visitar alguém? Ligue perguntando se poderá ir visitá-lo, pergunte se ele não estará ocupado... Vai fazer uma festa-surpresa para alguém? Tente ter certeza de que essa pessoa realmente gosta de surpresas. Vai fazer uma homenagem pública para alguém? Tente, primeiramente, saber se a pessoa gosta realmente de manifestações públicas... Vai fotografar alguém famoso? Pergunte se o outro permite ser fotografado... E por aí vai... É tudo tão simples... Nesses casos, aquela frase famosa ‘perguntar não ofende’, cai como uma luva... E, para terminar, por favor, nunca faça parte do time daqueles que dizem: “Ah, mas eu posso, eu sou amigo íntimo...” Ou pior, “Ah, mas eu sou da família...” Grave, de uma vez por todas: o único lugar em que pessoas inconvenientes são engraçadas e até aceitas, é na literatura... Portanto, mesmo sendo amigo íntimo, quase um lingerie, não custa nada perguntar ao seu íntimo amigo se ele estará em casa, antes de ter a maravilhosa idéia de ir visitá-lo... E, mesmo sendo da família, lembre-se de que todos têm o direito de programar uma noite maravilhosa (jantar com alguém, ler um bom livro, dormir mais cedo, dar uma festa de arromba...) sem ter de ser interrompido por uma ‘agradável surpresa’... Isso não só faz parte das regras de etiqueta, como do bom convívio... E, nada melhor do que conviver bem, sem gafes, com muito estilo, bem-estar, elegância, e, sobretudo, sem surpresas desagradáveis... Não acha?
(Adriana Luz)