TEMPO DE SOMBRAS

 
Houve um tempo em que sombras eram coisas do além. Noturnas e soturnas diziam-nos do inesperado, dos mistérios da noite.
Na história da humanidade sempre tivemos uma dúbia relação com elas, às sombras. Isso porque ao mesmo tempo em que assombram, aproximam. Nas conversas debaixo de árvores, aprazíveis sombras, espantando as sombras da vida nas trocas despretensiosas e laborais. E havia abundância delas...
O mundo cresceu, cruzamos divisas, desmatamos sob o argumento de merecermos vida mais confortável. Irrompeu daí uma escassez de sombras que acolhem o corpo no seu frescor. Em seu lugar ficaram outras sombras, aquelas que assombram, assustam... E árvores nasceram dentro de nós, com o único propósito de escondermos sob seu escuro-temor.
Hoje, quando caminho em direção ao trabalho, vejo ferramentas criadas pelos homens, intentando fazer sombras: As sombrinhas! Montes delas... Criadas para conter as chuvas, agora usadas para abrandar o sol de um tempo, por demais, aceso. Invenção humana tentando reverter às próprias ambições. E nos “blecautes” das modernas sombrinhas, o sol abrasador vai assombrando nossa epiderme.
Suerdes Viana
Enviado por Suerdes Viana em 17/04/2012
Reeditado em 18/11/2012
Código do texto: T3617614
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