ENFRENTANDO A MORTE



Confortar uma mãe que acaba de perder um filho para o câncer, não é tarefa fácil.
Sobretudo depois de uma longa e sofrida batalha travada entre a doença e a criança.
Luta que a mãe, acompanha de muito perto. Sentindo na carne cada cirurgia, cada procedimento doloroso, que o filho tem que realizar.

Por vezes essa luta é inglória, e ao final a mãe estreita nos braços o corpo inerte do ser tão amado. Porém, para surpresa de quem acompanha de perto o desfecho, assiste a mãe guerreira, ressurgir das cinzas, e entregar em paz o filho amado ao Criador.
Sem lamentações, sem revolta. Em seus olhos apenas a dor da saudade, a dor de um amor imenso, que não mais pode abraçar, beijar, conviver com o ente querido.
Ao lado do leito, está ela. Ainda retém entre as suas, as mãos do filho. Com olhos marejados de lágrimas, que saltam feito uma cachoeira, diz em voz sumida: "As mãos dele estão geladas, coitadinho". Num gesto de amor infinito, tenta aquecê-las. Como se isso possível fosse.

Passado mais de um ano, eis que a mesma mãe, volta ao hospital, e se candidata a uma vaga de voluntária no setor de internação.
Diz ela, que deseja ajudar outras mães, que vivem um trama semelhante ao seu. Quer estar perto delas, pois sabe bem, como elas padecem, as dúvidas, os anseios, receios e dores, que cada uma sofre.
Deseja abraçá-las, e contar a elas, que é possível sobreviver, mesmo quando o desfecho é a morte. 

E depois de um tempo de treinamento, encontro-a, caminhando pelos corredores do sétimo andar do hospital. Cabeça erguida, olhar triste, porém, sereno. Mãos quentes, prontas para agasalhar. No peito seu coração bate ao som da generosidade, não endureceu pela dor da perda. Muito ao contrário, foi em busca da dor do semelhante. E tenta levar alívio. E leva. Tem profunda empatia pelo sofrimento do próximo. Sabe bem o que estão passando. Pois, já viveu algo muito parecido.

Em nosso encontro rápido, ela me diz: "Fui muito amparada, quando meu filho adoeceu, e morreu. Hoje busco amparar a quem vive um drama semelhante ao meu, essa atitude curou uma ferida aberta em meu peito".

Abraço-a, e sou por ela abraçada. E nada preciso dizer-lhe, a admiração que lhe devoto, ela vê, em meu olhar.





(Foto da Autora)
Lenapena
Enviado por Lenapena em 17/04/2012
Reeditado em 17/04/2012
Código do texto: T3617347