O JULGAMENTO

O JULGAMENTO

Julgamento implica em ser justo. E julgar é o ato de avaliar um determinado caso para que se possa tomar uma decisão justa, utilizando-se de parâmetros que venham servir de referência para tal. Para julgar, deve-se estar imune ao ódio, à simpatia, à ira ou a qualquer forma de sentimentalismo. A sabedoria está na análise da situação. O filósofo Epicteto (55-135), em “Manual” – Saber avaliar as situações – diz: “O que perturba os homens não são as coisas, mas os juízos que os homens formulam sobre as coisas. A morte, por exemplo, nada é de temível – e Sócrates, quando dele a morte se foi aproximando, de maneira nenhuma se apresentou à morte como algo de tremendamente terrível. Mas no juízo que fazemos da morte, considerando-a temível, é que reside o aspecto terrível da morte. Quando somos hostilizados, contrariados, perturbados, atormentados e magoados, não devemos sacar as culpas a outrem, mas a nós próprios, isto é, aos nossos juízos pessoais e mais íntimos. Acusar os outros das suas infelicidades é mera ação de um ignorante; responsabilizar-se a si próprio por todas as contrariedades é coisa de um homem que começa a instruir-se; e não culpabilizar ninguém nem tampouco a si próprio, então, sim, é já feito de um homem perfeitamente instruído”.

O juízo que fazemos de nos mesmo deverá ser o que de fato é. Parecer não é igual. E não serve para julgarmos o outro. A natureza do Juízo consiste em afirmar uma coisa de outra, já dizia Aristóteles. Então, ao julgar devemos ser imparciais, formar um juízo que de fato corresponda à verdade. Sócrates acreditava que: "Só quem entende a beleza do perdão pode julgar seus semelhantes”.

A todo o momento do nosso cotidiano estamos fazendo juízos de valor das pessoas, das coisas e das situações. Basta olharmos para alguém que estiver com um comportamento estranho ao que se conhece ou espera, já vem o julgamento, na maioria das vezes maléficos, que produzem sempre uma energia contrária frustrante e com decisões e atitudes prejudiciais. É comum ver alguém fazer juízo de valor sobre o juízo de valor do próximo, sem o devido respeito e consideração à livre expressão de opinião de forma a considerar-se superior, mestre, o que demonstra um desrespeito à individualidade e aos valores do nosso semelhante. E o que garante a liberdade individual é o respeito ao direito de expressão.

Um mau julgamento, às vezes, pode trazer consequências irreparáveis, dolorosas e de difícil correção em curto prazo. Contam-se que certa vez havia dois vizinhos que tinham passagem livre entre seus quintais; um deles comprou para seus filhos um coelhinho. O filho do outro vizinho pediu a seu pai um animal de estimação. O pai lhe deu um cachorro, pastor alemão. Quando o vizinho pai da criança do coelho viu o cachorro, foi logo ter com o amigo e disse-lhe que o cachorro iria comer o coelho. O segundo vizinho disse não, porque entendia de animais, e como os dois eram filhotes cresceriam juntos e seriam bons amigos. E isso se deu; os dois animais viviam brincando, ora num quintal, ora no outro. Um belo fim de semana, o vizinho dono do coelho foi com a família para a praia. Domingo à tardinha, já próximo à chegada dos vizinhos, o dono do cachorro estava na cozinha de sua casa lanchando com sua esposa e filhos quando apareceu o pastor alemão com o coelho na boca, todo arrebentado, sujo, cheio de terra e morto. Pegaram o cachorro de porrete, bateram-no violentamente e arrancaram de sua boca o coelhinho. O que dizer para o vizinho quando chegar? Ele tinha mesmo razão: o pastor alemão ia comer seu coelhinho. Alguém teve a ideia de lavar o coelho, enxugá-lo e colocá-lo em sua casinha. Assim fizeram e até perfume passaram. Logo em seguida, chegam os vizinhos. Daí a pouco, ouvem o choro das crianças e, em seguida, o vizinho bate à porta do amigo com a fisionomia de quem viu um fantasma e diz: “o coelho, o coelho”... “O que tem o coelho?” pergunta o amigo. “O coelho morreu”. “Mas há pouco ele estava bem no quintal”. “Não, ele morreu na sexta- feira e então nós o enterramos, e agora ele apareceu na sua casinha”. Veja no que dá um julgamento precipitado. O cão por quase três dias sem o amigo, desesperadamente, procurava-o farejando aqui e acolá. Quando o encontrou, provavelmente de coração partido, desenterrou e levou-o para seus donos, talvez no intento que eles pudessem ressuscitá-lo.

Ao julgar, precisamos ter bom senso, evitar arbitrariedades e impetuosidade, buscando uma consonância com as convicções mais profundas que se tenha para um julgamento mais justo possível. Porque depois do julgamento feito poderemos não ter mais tempo para reparar o dano causado, tal como uma pedra depois de atirada, uma palavra depois de proferida ou o tempo depois de passado. Os juízos de valor expressam uma avaliação de certos aspectos da realidade. Muitas vezes a sua função é influenciar o comportamento dos outros e mostrar-lhes como devem olhar para a realidade. Então devemos tomar cuidado e nos educar para emitir juízos das pessoas ou das coisas. Assim, que o nosso juízo de valor seja acurado dentro de uma realidade cada vez mais próxima da verdade.

Os juízos podem ser: juízo de fato e juízo de valor. Juízo de fato diz sobre algo que existe e que pode ser verificado, as coisas como são e por que são. Juízos de valor são avaliações feitas sobre coisas, pessoas, ações, experiências, intenções, atos, sentimentos, acontecimentos, estados de espírito, decisões e comportamentos, como bons ou maus, desejáveis ou indesejáveis, condenáveis ou incorretos.

J. Barsanulfo Nery

Barsanulfo
Enviado por Barsanulfo em 16/04/2012
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