SOBRE A "FELICIDADE TORTA" !

Há pessoas que brincam comigo a me dizerem que sou a "rainha das histórias". Devo assentir: "sou mesmo".

Mas,são histórias com "h", verdadeiras histórias que sempre me ilustram minhas crônicas ou instigam os meus ensaios.

Muito longe de ser eu uma "rainha das sucatas históricas", posso garantir que eu as reciclo nos meus ouvidos no dia -a -dia a bem da minha própria necessidade de "precisar" ouvir o que as pessoas têm a me contar.

Quando já não as tenho alguém logo aparece: "tenho uma super história para você"!

Então, eu mergulho de cabeça no mundo do outro, mundo que muitas vezes entra em intersecção com o meu, afinal, somos todos meio iguais, quase previsíveis no tempo, enquanto seres humanos deste mundo.

Todavia eu aviso: não sou psicanalista, antes que alguém deduza que sim.

Decerto que é assim com todos nós porque percebo que com o passar do tempo nossas mais incríveis histórias- "histórias de vida! " -são todas muito parecidas, e num rol de conversas todos temos algo a contar, a relembrar, a rir ou quem sabe ainda chorar, a reviver e assim...viver.

Percebo também que, com o tempo, mesmo as histórias mais pesadas ficam mais leves, as pessoas as carregam com mais felicidade e, acreditem, até com um certo "prazer" ou "orgulho" pelo enfrentamento de certas dores.

Não é incomum rirmos das nossas próprias histórias.

E a história de hoje poderia estar em qualquer novela das telinhas se é que já não esteve.

Trata-se duma mulher madura, como qualquer uma de nós, mulheres de hoje em dia, que há tempos atrás rompeu seu casamento por infidelidade conjugal do marido.

Fato super comum , lugar comum, um enredo até chato eu diria, nada de novo até aqui. Não fosse o desfecho do fato.

Porque com aquela mulher a história lhe escreveria, a partir dali, um enredo de vida bastante inusitado.

Certo dia, seu ainda marido lhe ligou desesperado a lhe dizer que o melhor amigo estava morrendo:" estou indo ao hospital tal para acompanhá-lo na internação, acho que enfartou, ficarei por lá!" informou ele à esposa, pelo celular.

Ela, que já desconfiava de algo meio estranho, resolveu ir ao hospital e lá se deparou com uma mulher grávida chorando, a deduzir que seria a possível esposa do amigo enfartado. Claro que não era.

Era ela a mulher que o seu maridão engravidara num adultério e que ali entrava em complicado trabalho de parto.

O Marido, ou melhor, o também recente pai desesperado deu "o pira" dali e nunca mais apareceu, e ela assumiu o acompanhamento da grávida durante a internação, mesmo depois de ali saber do que se tratava.

Deu-lhe todo o suporte emocional até o nenê nascer.

Era uma menina, a que tanto ela queria mas que não conseguira ter.

O drama da história: a parturiente morreu no parto e não possuia familiar algum, então, pelas vias legais, ela ficou com a criança que cresceu juntamente com seus dois filhos quase vinte anos mais velhos.

Hoje, já passados alguns anos, e "recém- viúva do ex-marido morto", ela conta com o brilho duma extrema alegria sobre a história da adorada filha que ganhou pelas vias que sequer imaginou.

Relata ser a criança a sua força motriz da vida.

E quantas histórias que não planejamos, sequer escolhemos, que nos entram pela vida afora e mudam a direção de qualquer um de nós?

Moral da história: se Deus não escreve por linhas tortas, eu acredito que não, decerto a vida nos ensina que, nas linhas tortas que nós escrevemos, às vezes entrecortamos aleatoriamente os caminhos de alguém, a nos e à redirecionar aos outros, caminhos que inexplicavelmente rumam para a felicidade "meio torta", mesmo que seja para aquela que sequer sonhamos um dia.

É por isso que sempre digo: Se ainda é vida...então, sempre cabe mais uma nova história...que nos faça rir ou chorar.

O enredo à vida pertence.