A VINGANÇA DO TETÉU

Antes que alguém fique sem saber ou em dúvida sobre esta palavra - tetéu - tentarei logo elucidá-la para que o entendimeto do fato que passoa a contar se torna mais fácil. É o seguinte: tetéu é como é conhecido o quero-quero ou mais precisamente, o téu-téu, segundo a ornitologia. Principalmente é chamado por esta alcunha nas regiões norte e nordeste do Brasil. Segundo alguns dicionaristas, a palavra tetéu numa relação onomatopeica sobre o seu canto. Portanto, continuarei a chamá-lo assim de tetéu e ponto final, apesar do dito cujo não me trazer boas lembranças do meu tempo de infância. Senão, vejamos.

E olha que há mais de meio século que a tal vingança do tetéu aconteceu na minha vida. Sim, pois foi exatamente comigo que o mesmo se irritou e tentou me perseguir para se vingar e me assustar ou talvez até me ferir, por ter mexido no seu ninho. Explicarei melhor e com detalhes. Eu tinha naquela época meus oito anos de idade. Era uma criança frazina e também sonsa. Nesta ocasião estava passando alguns dias com a minha irmã mais velha, a qual estava grávida e, portanto, precisaria sempre está acompanhada de alguém, nem que fosse assim como eu, quase inútil para socorrer alguém assim, a não ser para correr e dar algum recado e pedir ajuda, socorro etc. Pois então, certa ocasião, enquanto ela lavava algumas peças de roupas num açude próximo da casa, num lugarejo longe da cidade, isolado de tudo e de todos, eu apenas lhe fazia companhia. Afinal, ela já estava no oitavo mês de gestação.

Sendo assim, lá estava eu, seu pequeno "escudeiro" e acompanhante. E como não tinha quase nada para fazer, ficava à toa,de um lado para outro, procurando o que não perdera, mas sempre próximo do local onde ela estava. Até que,sem querer, querendo, descobri um ninho entre algumas pedras e dentro do mesmo havia dois ovinhos, bonitinhos. Imediatamente, não resistindo de curiosidade, peguei-os, mostrando à minha irmã, a qual brigou comigo, explicando que agira muito mal em mexer naquele ninho de tetéu, o qual por sinal estava ali por perto só me "filmando". Só que jamais eu iria imaginar que mais tarde ele iria me perseguir para se vingar e me assustar. Pois foi dito e feito. Após ela terminar o serviço, fomos para casa. Mas logo ela me pediu para dar um recado a uma pessoa que morava no outro lado do açude onde estávamos. Portanto, eu teria que passar próximo daquele ninnho do tetéu. Na ida, tudo bem. Não aconteceu nada. Mas na hora em que eu estava voltando só ouvi o tetéu cantanto no ar e dando um giro de 180 graus, como se percebesse ali sozinho, deu meia volta no ar e veio na minha direção num voo rasante e por pouco uma das suas asas atingira o meu rosto assustado e agora molhado por lágrimas do choro incessante. Enquanto isso corria sem parar e sem olhar para trás, para não ter certeza que o tal tetéu estivesse vindo em minha direção.

Atualmente, após 60 anos do ocorrido, sempre que ouço ou vejo um tetéu, vem repentinamente à minha mente aquele susto e até parece que ainda ouço a admoestação da minha irmã, dizendo:

-"Não mexa em ninho de tetéu. Pois depois ele vai lhe pegar!"

Os poucos cabelos do meu corpo até ficam eriçados quando lembro destas reminiscências infantis...

Joboscan de Araújo

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JOBOSCAN
Enviado por JOBOSCAN em 16/04/2012
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