Corrução X Alternância de poder
Quando eu ainda era criança já ouvia o meu pai dizer que “todo político calça 40”. A metáfora é tão clara que dispensa comentários. Adaptando-a para os tempos atuais, eu diria que todo político usa cueca tamanho GG. (Espero que entendam a alusão).
Parto do princípio de que não existe político confiável. Claro que é um ponto de vista polêmico, mas que é compartilhado por 90% dos brasileiros que declararam não confiar na categoria (IBOPE/2005). Até acredito que cidadãos e cidadãs de bom caráter possam entrar para a política imbuídos de bons propósitos, pensando em dar a sua contribuição para a melhoria das condições de vida dos seus concidadãos e é nesses que procuro votar, mas esses, justamente pelo seu caráter, raramente são eleitos, pois por não compactuarem com os conchavos e esquemas espúrios pré-eleitorais, não conseguem espaço nos partidos políticos ou dinheiro para financiar as campanhas milionárias.
Se por um milagre do santo protetor dos eleitores, uma dessas exceções conseguir um mandato sem a necessidade de comprar votos, apenas com uma plataforma política alicerçada no debate de idéias e propostas honestas, ao conhecer as entranhas do poder, das duas uma; ou se corrompe para conseguir espaço e se manter ou pula fora e vai cuidar da sua vida de cidadão honesto.
É realmente difícil acreditar que um político honesto consiga se manter no poder sem, no mínimo, ficar omisso diante de tantas falcatruas que ele tem conhecimento, como o jogo de interesses, o tráfico de influências, o nepotismo, as licitações fraudadas ou dirigidas, os superfaturamentos, as propinas, o Caixa 2 e outras tantas picaretagens que permeiam a política brasileira e que muitos acham normal na política, mas que para mim é desonestidade.
Diante de um quadro desses, muitos eleitores deixaram de votar pelos interesses da sua cidade, estado ou país e passaram a votar de acordo com os seus próprios interesses e necessidades pessoais, mesmo que essa atitude seja nociva aos interesses da coletividade. Uns votam por uma cirurgia, por uma consulta médica ou por uma caixa de remédios. Alguns votam por uma Cesta Básica, por um Carro Pipa ou por uma promessa de emprego. Outros votam pela manutenção de uma regalia para si, para um parente ou para as suas empresas. E há aqueles que vendem sua dignidade por bem menos que isso.
Aproveitando-se dessa conjuntura, políticos espertos vão prometendo realizar ou realizando esses diversos interesses, geralmente com dinheiro público, e angariando os preciosos votos para se manterem no poder e assim o ciclo se mantém.
Em toda democracia que se preze é salutar a alternância de poder, principalmente quando se percebe que os vícios, a corrupção e as ações equivocadas vão de encontro aos interesses e às tradições do povo, como é o caso do Brasil.
A alternância de poder não implica em mudanças drásticas nas políticas de governo. O que é bom e está dando certo deve ser mantido e até melhorado com a nova visão de quem estava observando de fora.
No Brasil, não obstante a desconfiança que paira sobre a Classe Política e sobre os partidos e principalmente por isso, a alternância de poder é mais do que necessária, é essencial. Mesmo que com a mudança não se tenha perspectiva de se acabar com a corrupção, quebrar-se-ia a estrutura corrompida pelo menos até que as novas engrenagens fossem montadas. Do contrário, quanto mais tempo certos grupos se mantiverem no poder, mais a estrutura cria raízes e tentáculos e avança sobre outras instituições, criando mecanismos de defesa e artifícios que dificultarão cada vez mais o seu combate já que, infelizmente, é utópico pensar da sua total extinção.