BATICABÁ
5. Baticabá
Introspectivo, eu devaneava pensativo na elaboração de um texto. Eu já havia percebido uma discussão, em cochichos, entre os meus três filhos; e, pelo visto, não houve acordo no fato discutido entre eles.
A mais nova, de três anos, discutia com o de quatro anos e com a mais velha, de sete anos, algo em torno da arbitrariedade dos signos lingüísticos.
Deborah caminhou para mim, com a sua boquinha de peixe ainda mais acentuada e olhos súplices, quase pendurados. Sua mão esquerda formava uma conchinha, na qual, com muita delicadeza e cuidado, com o cotovelo em noventa graus, trazia algo para me mostrar.
___Pai, isso aqui não é baticabá?
Olhei curioso para o que havia em sua mão; enquanto Miguel e Sarah olhavam-nos confiantes, esperando, com ansiedade, o meu veredicto.
Em sua mão havia uma porção de pequenas aparas de papel, retiradas de uma folha de papel, de um caderno espiral.
Baticabá. Eu nunca ouvira tal expressão; mas pensei na arbitrariedade dos signos; pensei no constante neologismo que nos rodeia, prova contundente de que a língua é tão viva quanto nós; e, igualmente metamorfoseável.
Todos eles esperavam a peremptória resposta do pai que sempre sabe tudo. Proferi a esperada sentença:
___Sim, minha filha, isso é mesmo baticabá!
Vitoriosa e soberana, seus olhos súplices se levantaram para os seus irmãos, e a sua boca sorriu de contentamento:
___Eu não disse que isso é baticabá?
Naassom G Paula
Extraído do meu livro: O Cronista