" DOIDINHA"
“ DOIDINHA”
UMA HISTÓRIA DE VIDA
No bairro, todos a conheciam, doidinha, doidinha, gritavam as crianças
Só ela sabia, de bôba se fazia, do que falava, do que pensava...foi a muito tempo, criança ainda, mo bairro longe, quase roça, que um dia quando da escola ela vinha, um caminhante a parou...
Ela, coitada, que o mau não conhecia do moço, agrado aceitou, e ali,
na beira da estrada, foi onde tudo começou...
Se dizia o camarada, amigo do pai da pequena Izildinha, que da mãe perguntou e se tinha medo, a pobrezinha, e teu corpo lhe tomou...foram horas, que ela sofreu, foi abusada e ali mesmo largada, machucada, sem entender o que se passou. E o tempo...Ah! este parou...quando a madrugada fria chegou depois que seu mundo desabou,foi a menina encontrada, nua, suja , desorientada, sem saber o que era ser.Seus pais, pobres coitados,da demora da filha, e sem saber o que fazer, foram a vida...deixaram de acontecer, nada a fazer, e a vida assim continuou...um mês, dois, três meses, um ano se passou, seu pai, entristecido com o descaso das autoridades, um dia , tomou uma decisão:- Iria a procura do homem que de sua filha abusou.
Partiu na manhã seguinte, o mesmo caminho tomou , por ruas e vielas e estradas a fora, caminhou até que um dia um homem encontrou e ao velho Antonio o bom homem consigo falou que este homem, um dia, estando bêbado,lhe contou que num mês passado, numa estrada de roça, uma menina estuprou.Estava bêbado demais, falava sem pensar na gravidade do confessado,e Antonio, ao mesmo perguntou se pelo menos de seu nome ele falou.Seguiu então pela estrada, mesmo rumo ele tomou e andou por ruas , bairros e cidades, seguiu por encruzilhadas,mas um dia, descansou...estava sem se alimentar,tal a vontade de encontrar aquele que um dia a sua filha fizera mal.
E assim de tanto pensar, num albergue , fora um dia parar, já doente, cansado de caminhar,sem rumo certo. Sua vontade da procura, aos poucos minada pelo cansaço e esgotamento. Sua vontade da procura, aos poucos terminou. Não mais mandava noticias a sua família a qual a muito deixara, sua mulher, pobre coitada, pensando que seu marido a abandonara, e sua filha,a pequena izildinha, ao mundo e desamparada, também foi deixada.
Foram os anos se passando, a menina abandonada,pelas ruas se criara,esmolando, as vezes roubando para a fome matar, a noite, em um canto encostada, sua mente se perguntando; O que da vida foi ganhando?
O pai, sem dar noticias, sua mãe, já falecida, não mais lembrava.
De menina a mulher, seu corpo crescendo, ela, mais crescida, mais sofrida,sua mente fervilhando, fome passava pelas ruas, esmolava nos cruzamentos
Foi quando numa madrugada, um carro perto de si parou, numa esquina qualquer, um senhor, desceu do carro e dela se aproximou e a Izilda perguntou se a poderia ajudar...Izilda, sobressaltada, de nada entendendo daquele senhor, assustou-se.
Foi seu primeiro pensamento, de quando pequena que de um homem lhe teve terror, corria por entre os carros, em desespero...
Mas de nada adiantou...aquele senhor era diferente, notou isto quando dela se aproximou. Parou de fugir, sua proposta ouviu, sem falar, dele pedir para ajudar pois uma família tinha e que existia nela um lugar, para as pessoas ajudar, teria uma cama, cobertor, comida, abrigo para ficar, carinho e compreensão.
Arredia, desconfiada, foi Izilda a ter em um local que na sua infância sonhara...uma casa onde as pessoas encontravam Paz, carinho e atenção,nada exigindo em troca. Izilda então ali permaneceu...sua casa encontrara afinal
Naquele homem, a figura de um pai de que tanto Izilda sentia falta. Uma pessoa em quem confiar e a quem poderia nos seus momentos de duvidas, questionar, e que sempre pronto estava para escutar e aconselhar se preciso. Izilda então , uma decisão tomou na vida. Ali criaria raízes...um dia, a conversar com seu benfeitor pelo qual se afeiçoara,um pedido fez...queria poder ajudar na educação e ensinamentos de outras crianças, os mesmos que ali aprendera.
Depois de estudar, em professora se tornou, tia. amiga, companheira, mãe, irmã.
Anos passaram, com o falecimento do mestre e amigo, muito sentido , e pela sua experiência de vida,e trabalho, assumiu a direção daquele abrigo e orfanato, onde se criara desde então.
Julio Piovesan
13/04/2012
Nota do autor:
Infelizmente, nos dias atuais, nem sempre encontramos pessoas ou abrigos que levam a sério, o social, deixando pessoas como Izildinha, a mercê
do destino, colaborando para o crescimento da prostituição infantil e
do índice de criminalidade que aumenta assustadoramente entre os adolescentes, tão somente por descaso e desinteresses visando apenas lucros pessoais. No mesmo caso, nos dias de hoje, temos conhecimentos que casas que abrigam idosos os maltratam, deixando-os sem alimentação e tratamento, levando-os até á morte, interessados que são apenas em suas aposentadorias.