JOÃO-DE-BARRO


     Na frente da minha casa há um poste habitado por um casal de joão-de-barro.
  Atenta, acompanhei a construção de sua casa arredondada, lá no alto. Via-os todos os dias voarem em busca de material e logo voltavam com o bico cheio de barro. Solidários e alegres, juntos iam moldando e formando a parede. Árduo trabalho! Depois de inúmeras “viagens” percebia-se certo cansaço, mas nunca preguiça ou sinal de abandono. O barro impregnava-se no delicado corpinho e as penas se transformavam em camuflagem natural. Sábia estratégia da natureza para garantir-lhes liberdade sobre o solo.
     Felizes, trabalhavam cantando bem alto, lá no alto. Passei a observá-los mais de perto. Entendiam minha curiosidade e aceitavam minha presença. Já éramos amigos. Estufavam o peito de orgulho ao me verem. Tinham pressa. Conheciam bem o perfume da primavera e sabiam que estava próxima. Algum tempo depois, a casa ficou pronta e lá passaram a morar esperando pelos filhotes que nasceriam.
     Um longo silêncio se fez ouvir. Respeitei o sagrado período de gestação com a expectativa de quem aguarda a chegada de uma ilustre visita.
     Manhã de sol. Sinais de vida nova inundaram o ar e encheram minha alma de alegria. A vida explodia exuberante entoando seu hino!
     Sobrevoando a casa, orgulhosos, os pais se revezavam no carinho e cuidado daqueles famintos biquinhos e, em alta voz, entoavam canções para anunciar ao mundo a novidade.
     No poste, dedicação familiar digna de ser imitada pelos humanos.
Ileides Muller
Enviado por Ileides Muller em 13/04/2012
Reeditado em 15/04/2012
Código do texto: T3611459
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