Salve-se Quem Quiser

Um dia desses eu conversava com minha irmã mais velha sobre BULLYING.

Chegamos á uma conclusão: pobres fracos são os que se deixam levar por isso.

Uma palavrinha sobre bullying.

Palavra da moda pra coisa que sempre existiu.

Eu sofri bullying, ou como queiram chamar.

Pra caramba.

Era magrela, orelhuda, meus dedos dos pés sempre foram feios, parecem ter vida própria! Eu vivia sendo chamada de fio de ovos, Olívia, Dumbo, ET... eu parecia um menino, pq minha mãe cortava meu cabelo bem curto e eu odiava. Ainda tinha que usar kichute que eu detestava! Horrível aquilo. Espalharam pra toda escola que eu era sapatão. Olha que embaraçoso, rs.

O pior não era nem isso, sofria mais por conta da religião dos meus pais. Eles são umbandistas (macumbeiros como costumam dizer por aí), e eu sofria bastante com as chacotas, era sempre excluída de alguma coisa na escola, quando um menino ficava interessado em mim, era de praxe: "ela fez macumba pra ele", "ela foi escolhida pra ser monitora pq fez macumba", enfim, tudo o que eu conquistava na escola e fora dela, pra esse povo cheio de preconceitos, era na macumba. Pois é.

Levei isso por muitos anos e ainda levo. Algumas pessoas não me visitam pq sabem que moro no terreno onde fica o centro dos meus pais, mas não ligo não. Aprendi a me defender dessa gente e de sua ignorância.

Graças á Deus eu nunca deixei isso acabar com a minha vida social.

Me botavam apelidos poucos elogiosos, me escolhiam por último pra qualquer coisa na escola, eu nem ligava.

Sempre fiz tudo sozinha. Os trabalhos escolares nunca podiam ser em minha casa. Eu não aceitava também ir pra casa dos outros e resolvia tudo sozinha. Nunca escondi de ninguém isso. E detalhe: meus pais são umbandistas, eu não!

Honestamente, não tenho vergonha disso. Nunca tive.

Me casei e construí minha casa no quintal ao lado deles, e meu marido sempre entendeu tudo isso, apesar de não ser também da religião. Uma coisa nada tem a ver com a outra.

A pouco tempo tentaram usar isso contra minha filha, eu cortei logo pela raiz. Explico a ela que não podemos vencer gente assim, mas podemos viver tranquilos se não nos deixarmos levar. Ela, em seus 7 anos, entende e leva sua infância numa boa.

Então, nem por isso eu saí matando todo mundo, ok?

Isso existe desde sempre.

Vai existir sempre onde houver mais fortes e mais fracos.

Isso foi tema de metade dos filmes adolescentes dos anos 80, pelamor!

E daí?

Não vou falar sobre o massacre acontecido na escola no Rio - mas uma coisa que me aborrece, me tira do sério, é a mania que as pessoas tem de procurar culpados, qualquer um... menos o verdadeiro culpado!!

Tudo bem você ser um ser mau, desprezível, fazer coisas repreensíveis: a culpa é da sociedade, da internet, dos filmes, dos seus pais, dos americanos, do armamento...

Ou é porque você é minoria, ou sua mãe não te alimentou no peito, ou teus pais eram rígidos, ou te espancavam, ou você foi humilhado, ou teve menos oportunidades, ou...

Ou, ou, ou!

Todo mundo é culpado, menos você!

Que bobagem sequer insinuar isso!

Me recuso a aceitar isso.

As pessoas tem escolhas.

Sempre.

E são o que escolhem ser, independente do que aconteceu a elas.

É questão de escolher superar ou não.

Não respeito pessoas que usam os próprios traumas como desculpa pro que elas são.

Temos que aceitar que certas pessoas são más, ou malucas, ou desprezíveis e pronto.

Só.

E que a culpa pode ser delas mesmo.

Por não ter escolhido sobreviver apesar de, e seguir em frente.

É isso.

Cris Souza Pereira
Enviado por Cris Souza Pereira em 13/04/2012
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