Nossos medos
Antigamente eu não escrevia. E se escrevia, não publicava. Por medo. Medo bobo, eu sei. Sei hoje, porque naquela época o medo me impedia de ver e fazer muitas coisas mais, além de escrever.
Com o tempo, percebi que quando fico preocupado demais em escrever tudo certinho, as palavras ficam meio presas, acanhadas. E o texto fica mais chatinho também. Já quando quero simplesmente transmitir meu sentimento, elas fluem felizes e tranquilas. O medo e a vergonha são gaiolas muito ferrenhas. Mesmo excitados, impedem que gozemos palavras prazerosas...
Hoje sou um escritor sem vergonha. Obedeço mais ao meu coração do que às regras gramaticais. Porque elas também são gaiolas ainda mais estreitas. Prefiro mesmo até deixar alguns erros, porque assim o texto fica do jeito que eu falo, mais natural.
Assim é na vida também. Quando temos medo de errar, deixamos de desfrutar. Quando temos medo do ridículo, perdemos oportunidades. Afinal, é melhor ser um louco convicto do que um lúcido indeciso.
Porque o medo nos impede de viver, e a ousadia nos impele a amar (a vida). Drummond declamou: “Esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.”
A maioria dos nossos medos são fantasmas. Só existem porque acreditamos neles. Nós os criamos dentro de nós e passamos a alimentá-los.
No lindo livro “Os Miseráveis”, Victor Hugo disse: “Nunca devemos ter medo de ladrões ou assassinos. São perigos externos e os menores que existem. Temamos a nós mesmos. Os preconceitos é que são os ladrões; os vícios é que são os assassinos. Os grandes perigos estão dentro de nós. Que importância tem aquele que ameaça a nossa vida ou a nossa fortuna? Preocupemo-nos com o que põe em perigo a nossa alma.”
O medo e a ansiedade criam mundos e neles, sofrimentos. Muitas coisas temidas não acontecem ou então, ocorrem de forma mais amena do que imaginávamos. Nossa mente é de fato muito fértil e a criatividade gera tanto soluções como novos problemas ilusórios.
O filósofo grego Epitectus disse: “Os homens são perturbados não pelas coisas em si, mas pelo que pensam sobre elas.” E como pensamos! Antes, durante e muito tempo depois.
Mas o medo não é só ruim, não. Em “A felicidade desesperadamente”, André Comte-Sponville afirma que “coragem não é ausência de medo”. De fato, corajoso é aquele que continua avançando apesar do medo.
Portanto, disso concluímos que sentir medo é para os fortes. Porque os fracos fogem assim que ele surge, evitam-no a todo custo. Já os fortes não se intimidam por ele, sentem-no totalmente até vencê-lo por completo.
(Catalão, 11/03/2011)