MEMÓRIAS DE PROFESSOR: SOBRE ISSO

Um boi está solto lá pras bandas da Maravilha. Bicho valente! É só o que se ouve dizer! Muitos vaqueiros das redondezas já tentaram por várias vezes acuar o animal, mas parece estar enfeitiçado. Dizem ainda que ele deva seguir variado o riacho, porque já foi visto até na Fazenda Papagaio. Estão pensando que se perdeu procurando água! Lembram do rebanho de ovelhas que só foi alcançado, próximo ao Poço Verde, entre o Mosqueado e a Lages. A um passo para atravessar a BR e ir parar no Rio São Francisco!

Quando essa história corria, a caatinga se achava acinzentada. No juazeiro que se encontrava nu, desde junho, começava a lançar o verde prenunciando a paragem que antecede às chuvas. Um ciclo reinventivo! Os ventos em companhia do astro diurno que estava mais perto dissipavam as águas que ainda insistiam por continuar em seu estado líquido.

Boi, pelos momentos que estive em companhia do sertanejo que vive no meio dos paus secos a quebrar lenha, a tirar o couro do bode embaixo do imbuzeiro, é um animal muito querido! Talvez, nesse animal pela dureza da sequidão que assola a pele de quem está plantado no meio do mato, exista um sinal de esperança! Com tanta desolação que a seca traz, esses animais pelo porte que acumula, gera expectativa de abundância pra essa cabraiada.

Sobre isso, relato dois momentos de recordação, onde esses animais foram protagonistas. Deixei de ser pelo menos em uma ocasião o foco da atenção dos meus alunos na Lagoa das Contenas, onde trabalhei em 2004. Um fato se deu da seguinte forma: estando eu a trabalhar o conteúdo da aula, passam pelo terreiro da casa, onde funcionava a escola, robustos bois e vacas, cada um mais bonito que o outro. Concentração na aula já era! Todos correram para o pequeno jardim rodeado por cerca. Depois de tentar conter a turma, me rendi ao espetáculo e fiquei a admirar a espontaneidade e alegria daquelas crianças em observar aqueles animais.

O segundo acontecido foi no dia em que a merendeira e seu esposo foram até a cidade e eu fiquei sozinho com os alunos. Estávamos outra vez em plena aula quando um dos meninos percebeu a presença de um bezerro dentro da roça. Foi uma correria que logo se transformou em diversão. Enquanto o animal fugia por entre as ramas de feijão de corda e os pés de milho que cresciam juntos, as crianças buscavam a qualquer custo tira-lo de dentro do cercado. O momento culminante desta saga foi quando o filho mais velho do dono da plantação segurou no rabo do bicho e o chutou. Aí eu que já estava gostando de ver a brincadeira não contive o riso!

Paulo Sérgio Costa
Enviado por Paulo Sérgio Costa em 12/04/2012
Reeditado em 08/07/2014
Código do texto: T3609140
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.