GAROTA DO RODAPÉ
Naquele evento em Parati que reúne escritores, inclusive estrangeiros, prormovido por patrocínio de um daqueles bancos privados que investem em cultura pra não pagar o imposto de renda, um escritor e jornalista chamado Carlos Mirisola escreveu tudo que não devia e logicamente seu texto não saiu em jornal. Eu o li no site LEIA LIVRO, e me diverti muito. Uma das coisas que ele comentava, era sobre as meninas que circulavam por lá com objetivos bem definidos. E ele então, visto que as figuras proeminentes eram escritores, tratou de chamar essas meninas de GAROTAS DO RODAPÉ.
Eu nem imagino como seja um tal evento, mas pelos comentários do Mirisola, a badalação deve ser grande e a literatura algo como um pano de fundo .
Na minha modesta existência de escritora nestes sites, conheci vários escritores. E posso afirmar com toda certeza que pelo menos uns dois teriam condições de brilhar em qualquer evento literário. E eu mesmo não sendo garota, seria uma entusiasta e admiradora muito presente. Tenho dirigido palavras de apreço a escritores por aqui, tenho sido uma "garota de rodapé" com interesses literários e dedicado muito do meu tempo a ler e comentar textos, a escrever mensagens até longas e a manter inclusive correspondência intensa por meses. Entretanto, a admiração pelas letras pode migrar para caminhos de admiração pessoal, onde sentimentos começam a produzir aqueles entusiasmos e aí o circo pega fogo. E isso é bastante frequente, variando os contatos somente em intensidade e estilo, no mais, é tudo igual. Uma relação virtual pode ser algo encantador, pode produzir momentos fantásticos e inesquecíveis, entretanto dificilmente migra para um encontro ao vivo e a cores. E quando isso acontece, dos que tomei conhecimento, na verdade seis casos, nenhum teve o segundo encontro. Tenho ouvido muitas histórias e sei que no virtual, há também casos que se prolongam por anos. E mesmo terminando, tornam-se vivências inesquecíveis.
Vai tudo muito bem até que de repente, aquele a quem você dedicou tantas palavras, começa a se esgueirar por uma saída digna. Ou uma saída apressada. Como já falei, variam os estilos. Os casos mais superficiais poderão passar a usar o teu endereço para enviar aquelas mensagens que eles julgam interessantes e nunca mais te escrevem uma linha sequer. Outros,poderão criar um impasse como uma viagem, uma mudança de vida, pra dar aquela esfriada legal. E aqueles que se diziam solitários, podem repetinamente comunicar que vão se casar, reatar velhos laços, para esfriar o teu ardor de fã deslumbrada.. Nesta verdadeira AREIA MOVEDIÇA VIRTUAL ninguém sabe a hora em que vai afundar pra valer.
E se você não se der por vencida, mesmo tendo ouvido do distinto escritor que ele não vai arredar uma palha pra tentar conhecer você, o próximo passo que ele dê pra te colocar na tua devida posição, talvez venha a ser uma citação ao pé da página, um uma vaga referência e depois, um já vai tarde, idem, ibidem ... E então, você na certa vai morrer ali espremida, uma citação esquelética, ríspida, feia como uma mosquinha tombada por um golpe certeiro. Aí sim, você terá se transformado em legítima "GAROTA DO RODAPÉ". E dê-se por feliz com isso. Que as coisas podem ser ainda piores. Diante dessas realidades, há duas opções. Ou você se afasta de vez, ou vai viver suspensa para sempre a um pêndulo oscilante, perseguindo caminhos velhos, com aquele friozinho na barriga ou nó no estômago sempre temendo a hora em que o tênue fio se rompa e você despenque direto no abismo. Melhor a morte do que tal destino.
( Crônica inédita de outubro de 2007)