Carta à Freud

Espero que esta carta o encontre bem de saúde, livre de suas dores e consequentemente das doses de cocaína.

Com toda certeza, você está estranhando esta carta, algo praticamente abolido hoje em dia, com os usos dos e-mails. Mas eu sou daqueles de certo modo perdido no tempo. Continuo fascinado pela sutileza das velhas e tradicionais cartas escritas à mão, onde a caligrafia transmite mais que palavras, e a escrita com o próprio punho, reflete o sentimento e espírito do autor do texto. Aprecio o nome e o endereço no envelope, a saudação, o selo lambido e a entrega do carteiro. São essas pequenas coisas que tornam mágicos e sedutor a ato de escrever e mandar cartas.

Atualmente , na minha caixa de correspondência,daqui do meu edifício, só recebe contas para pagar, extratos bancários, avisos do Plano de Saúde, folhetos e revistas de supermercados. A verdade Freud, é que todo mundo tem pressa. Tudo parece ser para ontem. Falta tempo para as pequenas sutilezas e delicadezas da vida.

Outras coisas também mudaram. A violência aumentou,ladrões, assassinos e estupradores andam soltos pelas ruas. Presos, estamos todos nós, em nossas próprias casas e condomínios. Não podemos mais caminhar com tranqüilidade. Praticamente, todo mundo conhece alguém que já foi vítima desse caos, que tomou conta de nossa sociedade. Resta a saudade do tempo, em que se podia passear sem correr o risco de assaltos relâmpagos e outros tipos de violência.

Mas não é só isso. As drogas há muito tempo, deixaram de ser uma forma de contestação e liberdade como na década de 60, época do nascimento da contracultura e do movimento hippies. Hoje é um problema social grave que destroi a sociedade. O mercado do tráfico movimento grande quantidade de dinheiro, financiando mais e mais atrocidades.

A corrupção e roubalheira continuam a todo vapor, apenas com mais visibilidade pela sensibilidade e atuação do Ministério Público e dos meios de comunicação. Porém, com a mesma impunidade.

Meu caro Freud, até suas teorias, ideais e princípios, foram e são questionados. Sei que tudo isso com toda certeza é assustador, mas quanto a isso fique tranquilo, você é, e continua sendo o pai da psicanálise.

Roberto Passos do Amaral Pereira
Enviado por Roberto Passos do Amaral Pereira em 12/04/2012
Código do texto: T3608329
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.