Estive em Santa Maria da Vitória, na Semana Santa, e pude ver e fotografar em que estado ficou nosso centenário Tamarindeiro, quando o barco que o abriga teve as paredes derrubadas pela correnteza do rio. E a carranca de cimento submersa. Isso me fez lembrar uma crônica publicada no meu livro Flutuando na Areia (p. 91, 1988), transcrita abaixo, que foi lida de forma emocionante e magistralmente por Jairo Rodrigues, por ocasião da noite de autógrafo, na sede da Philarmônica Seis de Outubro.
A situação, naquele momento, requeria muito urgência, coisa que às vezes falta às autoridades municipais, pois, numa próxima enchente, estaríamos chorando pela perda da nossa Árvore-Símbolo. Não tivemos dúvidas, convocamos os estudantes da Casa do Estudante de Santa Maria da Vitória (CAES), em Salvador, e, juntamente com outros amigos da cidade, fomos pedir ajuda financeira aos comerciantes e pessoais sensíveis à nossa causa, para construirmos um barco que o pudesse proteger, no que fomos atendidos prazerosamente. Portanto, naquele barco, não existe dinheiro público.
Agora, novamente, o Tamarindeiro precisa de socorro urgente. E, ao que me parece, a situação é diferente: existe uma Esperança, uma Placa e um COMPROMISSO público pela reconstrução do barco – o que não pode demorar muito –, porque, numa próxima enchente do rio, poderemos estar dando adeus à nossa Centenária Árvore, e isso nós não queremos, por isso mesmo, pedimos socorro pelo nosso Tamarindeiro. E que seja urgente!
A situação, naquele momento, requeria muito urgência, coisa que às vezes falta às autoridades municipais, pois, numa próxima enchente, estaríamos chorando pela perda da nossa Árvore-Símbolo. Não tivemos dúvidas, convocamos os estudantes da Casa do Estudante de Santa Maria da Vitória (CAES), em Salvador, e, juntamente com outros amigos da cidade, fomos pedir ajuda financeira aos comerciantes e pessoais sensíveis à nossa causa, para construirmos um barco que o pudesse proteger, no que fomos atendidos prazerosamente. Portanto, naquele barco, não existe dinheiro público.
Agora, novamente, o Tamarindeiro precisa de socorro urgente. E, ao que me parece, a situação é diferente: existe uma Esperança, uma Placa e um COMPROMISSO público pela reconstrução do barco – o que não pode demorar muito –, porque, numa próxima enchente do rio, poderemos estar dando adeus à nossa Centenária Árvore, e isso nós não queremos, por isso mesmo, pedimos socorro pelo nosso Tamarindeiro. E que seja urgente!
UM PATRIMÔNIO AGONIZANTE
Tamarindeiro Velho, prestar-lhe uma homenagem, dedicando-lhe tão-somente este pedido de socorro, parece-me muito irônico, pois você não vê, não lê e, imóvel, passivo e resignado sofre a ação inevitável, natural e devastadora do tempo, porém, criminosa ação do homem.
Seu inaudível S.O.S. é insuficiente para sensibilizar os ouvidos humanos (leia-se: desumanos) indiferentes à sua dor. O que lhe resta mesmo é deixar diante dos olhos as cicatrizes deixadas pelos sofrimentos infligidos pelo primata (ir)racional, vistos em profundos sulcos no tronco secular. Você ainda tenta resistir a tudo, até mesmo ao peso dos anos que lhe curvam a vida; ao Sol impiedoso que lhe seca as folhas e o expõe inteiro aos escaldantes raios. E, apesar de tudo, de toda insensibilidade humana, você não guarda rancor e, nos momentos de lazer, serve de abrigo àqueles que procuram sua sombra, e se entrega de corpo inteiro ao deleite do povo.
Tamarindeiro, você viu Santa Maria da Vitória brotar à sua sombra e viu tantas vezes o mestre Guarany manejar com sutileza e arte seus instrumentos de trabalho. Embora pareça um privilegiado por haver nascido às margens do Rio Corrente, sofre, contudo, a ação das enchentes que já o debruçaram sobre a terra, desnudaram-lhe as raízes, expondo-as aos maltratos de muitos toros que as ferem e o deixam, indefeso, na iminência do fim.
A renovadora Primavera o fez verde novamente e, assim, é mais uma estação somada aos seus enésimos anos. Já é hora, portanto, dos insensatos corações das autoridades locais protegem e cuidarem deste símbolo histórico de nossa terra, porque, ao que nos parece, não bastaram os reclamos daqueles que ainda querem preservar a Natureza.
Setembro / 1987