Verdade: eu passo

Tudo bem, ela é sua. Não a quero.

Num mundo com tanta diversidade, prefiro o respeito, a tolerância. Não a conivência com a deliquência, não o comodismo, não a covardia de tudo aceitar pelo medo, mas o respeito por este instrumento imprescindível ao crescimento humano: a diversidade.

Não me refiro ao crescimento vulgar, ao crescimento puro e simples financeiro, embora eu louve e agradeça ao dinheiro pelas benesses que pode oferecer a todos nós. Digno propulsor do progresso material, que é parte do crescimento. Mas não é todo o crescimento em si.

Se você, bem sucedido Dono da Verdade, se chateou com estas palavras bobas de um bobo aspirante a escritor, está apenas confirmando minha tese. Pois quem cresceu, tornou-se pleno, ou quem ainda está na busca incansável do infindável crescimento da alma humana, não se chateia, não discute e não perde tempo com um bobo aspirante a alguma coisa.

Nem mesmo ao crescimento intelectual puro e simples. Aliás, talvez, não tão simples, já que, devido a minha ignorância, eu nem mesmo saberia defini-lo. Intelectual? Talvez sinônimo de vaidade, de leviandade, de ser tolo, talvez. Talvez sinônimo de ignorância, mas não daquela a qual aspiro, mas da ignorância de já possuí-la, de já estar farto dela. De tê-la em demasia. Talvez, porque afirmá-lo seria impor e impor é tentar diminuir quem nos lê, quem nos ouve, pacientemente, generosamente. Melhor deixar no ar, para reflexão.

Troco, aliás, a verdade pelo nada saber, pela ignorância e volto um bom troco. Ignorância que me permite começar do zero, sem idéias preconcebidas e tudo analisar como um mero aprendiz. Que me permite olhar para tudo sem duvidar de nada, mas também me permite não acreditar em tudo.

Que me permite a grande ousadia de lhe questionar, Senhor Dono da verdade, embora ainda que com muito respeito o faça. Com o respeito dos que nada sabem e por isto mesmo não temem ter sua opinião desrespeitada, ignorada, por muitos sendo debochada.

Mas que igualmente ou com ainda mais ousadia me permite questionar-me e duvidar de minhas próprias certezas, de minhas próprias escolhas. E que me dá a liberdade de refazer estas escolhas. Ah, liberdade, palavra esta, que neste contexto, mas não necessariamente em outro, é antônimo de verdade.

Verdade que eu passo, é sua, pode ficar. Verdade que alimenta guerras, separa famílias, destrói amizades, que no mínimo magoa e causa mal estar sem acrescentar nada. Que deixa o belo feio, o feio horrível, deixa o sábio esnobe e cego a respeito das grandezas que o cerca. E que por isto mesmo o impede de saber mais, de saber de fato, de saber o que realmente importa, o que o torna rico de tesouros que a traça não corrói, que é saber amar.