As lágrimas do porteiro noturno.

Ele passava horas naquele cubíqulo na porta do prédio.

A solidão era sua fiel vassala, com a qual compartilhava cada passo da jornada até o dia espreguiçar.

E assim passou os melhores anos da sua vida.

Foi quando descobriu um prazer que mudaria aquele enfadonho ofício. Ver filmes antigos em preto e branco seria a sua mais aguerrida boia de salvação.

Cada noite era um tema diferente, entre as antigas produções que encontrava na locadora, nacionais e internacionais.

Quando começava cada filme, a sua alma virava os boêmios, galãs, cafetões, marujos, soldados, tudo o que aparecesse.

E chorava ao viver cada uma daquelas cenas.

Um choro engasagado, solitário, quieto até.

Um choro represado, cabrestado, arredio, tardio até.

Um choro passado do tempo, enrugado, esperado.

Um choro rasgado, entubado, encardido.

Um choro desgarrado, frouxo, escorrido.

Um choro chorado com todas suas fronhas, culatras e infinitas poças de lamento e dor.

Mas um choro pleno, como só os choros deveriam ser.

Cada lágrima enxaguava a sua tristeza e melancolia, levando consigo a dor por cada tropeço, cada nódulo que emergia dos seus sonhos, cada desafinada que o destino teimava em talhar nos seus ocos porões.

Assim foi levando suas noites, numa Casablanca que certamente nunca voltaria mais,

mas que estava viva lá como sempre quis estar.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 12/04/2012
Reeditado em 14/01/2024
Código do texto: T3607785
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