UM TRAVESTI NA FAMÍLIA
(Em espaço reservado aos leitores eletrônicos da revista "Caros Amigos", há um artigo no qual o leitor-escritor critica a família que não aceita que um dos seus membros seja um travesti. É um artigo interessante e bem escrito. Como tenho uma outra opinião a respeito mandei o texto abaixo para que a publicação seja avaliada e publicada. Como isso pode não ocorrer, vale ler lá, na revista, o referido artigo e aqui o que posto a seguir).
Eu sei que o espaço "artigos" não se destina a debates entre os que os publicam, entretanto fiquei tentado a tecer comentários sobre o polêmico assunto “Travestis” em que o Fábio Ferreira tão bem expõe sua opinião, e certamente obtém a concordância de grande parte dos leitores.
No meio social em que vivemos, (trabalho, escola, clube, rua que se mora, etc), há uma espécie de código de comportamento que, dependendo da pessoa, pode representar muito mais na formação dela que a própria orientação familiar. É com base nesse código que se sai pra vida, que nos relacionamos com as outras pessoas de qualquer meio que freqüentemos por necessidade ou por opção. Cada vez que nos tornamos mais exigentes e seletivos restringimos as opções de ambientes a serem freqüentados. Essa realidade não exclui o fato de que alguém com muita determinação e certeza de suas convicções freqüente meios nos quais seja persona non grata por ser estiloso ou ter características de comportamento não usual que venha a quebrar a harmonia comportamental do grupo em questão, mas sempre haverá um preço a pagar, ou uma reação a se enfrentar. Na família não seria diferente. Cada membro daquela família é uma pessoa ensinada a raciocinar relações dentro da média de comportamento que a sociedade impõe. A escolha de se travestir é mais difícil de aceitar que a homossexualidade. Sabe-se que as questões da satisfação sexual, em qualquer de suas manifestações deve ser respeitada sob pena de punir-se alguém por sentir assim ou assado. Mas não consta fazer parte dessa modalidade de emoções uma determinada forma de se vestir. Por esse motivo, um dos que pressupõe certa voluntariedade, o travesti que com ela enfrenta fora de casa todos os perigos da exposição deverá estar preparado para uma espécie de auto-suficiência que é conseqüência de sua escolha. Esse raciocínio pode parecer sectário, mas o restante da família também tem direito às suas convicções, e entre elas pode não estar conviver com alguém de escolhas estranhas ao costume, como de resto acontece com outras convicções até menos espalhafatosas. Quando a família faz parte das necessidades de seus integrantes há que se pactuarem meios de convivência em que todos, de alguma forma, cedam em prol do grupo familiar, do contrário vive-se sozinho sem, necessariamente, romper laços afetivos com seus integrantes. Isso ocorre em outras ocasiões por motivo profissional, escolar, por mera privacidade ou por qualquer outra razão sem que filho deixe de ser filho ou o parentesco que seja fique ao desamparo. Evidentemente poderá haver casos em que a família aceitaria ou até incentivaria o travesti, seu membro, na forma que escolheu para se apresentar socialmente, mas é inaceitável impor-se a ela, família, algo que a constranja por uma exceção que, convenhamos, há que ser digerida. A existência da família tem suas origens comportamentais em princípios religiosos dos quais faz parte uma gama de linhas de comportamento e quem se lixa para isso, o que não é nada anormal, deverá constituir uma forma de viver não baseada nos costumes que despreza. Ficar tentando fazer sincretismos tomando por base princípios que constituíram o que não lhe é caro é, no mínimo, egoísmo.