Prazer, Felicidade!
No fim, no fim de tudo, eu percebi que tinha mais medos do que conclusões. Passava tardes inteiras driblando meus desejos, traindo meus sonhos, acumulando saudade, indo e vindo em detalhes remotos, em pedaços de fotos, em restos de música... E eu bailava sozinha no salão lotado. Fechava o guarda chuva e esperava a tempestade vir. Deixava o protetor solar no armário e enfrentava todo e qualquer calor. E eu ficava sentada no telhado, contando estrelas, fazendo pedidos, reciclando versos, vertendo lágrimas, escapando do sono...
E eu tentava ser feliz, incessantemente, desgastantemente. Foi aí que no fim, no fim de tudo mesmo, eu percebi o quanto lutava pra ser perfeita e o quanto me esquivava da multidão.
Percebi que a felicidade dormia e acordava ao meu lado. Eu me encontrava com ela todos os dias em frente ao espelho, não me dava conta, e já não estava acreditando que ela existia.
Parei de procurar conclusões. Respostas. Lembranças. Parei de vasculhar no passado. De reler livros. De contar a mesma história. Parei de inventar piadas e comecei a rir mais de mim. E fiquei mais tempo em frente ao espelho, com o sorriso solto, prestando atenção em qual lado era mais bonito pra fotografar, onde era mais torto, jogando cabelo e piscando de vez em quando 'pras minhas rugas. E numa dessas piscadas tive um encontro com a felicidade. Perdida, coitada! Quase desistindo de morar em mim.
A felicidade é algo muito, muito simples. Quando alguém me pergunta sobre ela acaba perguntando sobre um tanto de coisas que já vivi e que vivo. E eu, como boa contadora de caso que sou, debruço na janela e me acabo nas palavras!