Medo de gente

Eu tenho muito medo de gente. Tenho medo de gente competitiva, gente que não divide, que não se agrada com nada, que só pensa em lucro, que se acha perfeito, que não gosta de criança, que não ouve música e reclama de risada alta e gostosa. Tenho medo de gente que passa rápido pelo espelho, que não se namora nunca, que não sorri ou resmunga sozinho de vez em quando. Tenho medo de gente que sempre chega nos lugares de cara amarrada. Que sempre sai de casa de cara amarrada. Que quer enfrentar tudo e todos, que fala sempre muito alto e olha por cima.

Tenho medo de gente que critica o amor, que banaliza todo e qualquer sentimento, que trata tudo como mercadoria e faz da vida um comércio, um mercado. Que faz das situações um leilão.

Eu gosto mesmo é de gente que pega no sono em qualquer lugar, que sonha acordado, que brinca de amarelinha, pula corda sozinho. Que escorrega lavando o banheiro e cai na gargalhada. Gosto de gente que divide. Que divide abraço. Que divide beijo. Que divide sonho. E até que divide medo - porque eu acho que, assim, o medo sente medo e a gente ganha força, forma equipe, cria laço.

Eu gosto de gente que não espera o brigadeiro esfriar. Que lambe os dedos, que sobe em árvore, que se respeita.

Eu gosto de gente que vive! Que ama! Que sonha! Que se apaixona! Eu gosto de gente! Mesmo com alguns medos, com algumas defesas, eu gosto de todo tipo de gente. Até das "gentes" que fingem que não gostam de outras "gentes".

AnaNunes
Enviado por AnaNunes em 10/04/2012
Reeditado em 10/04/2012
Código do texto: T3604759
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