Tarefas domésticas
 

 

Quando criança, eu só via fogão a gás em São Paulo, aqui na cidade não havia. Eram todos daquele tipo antigo, mas o nosso era ‘moderno’: não tinha cauda e era revestido de azulejos brancos. A lenha vinha da fazenda do meu avô e precisava ser cortada com o machado. Seu João, um homem que trabalhava alguns dias da semana lá em casa, é quem fazia isso. Ele também cuidava do jardim e ajudava na enceração, passando o escovão. De vez em quando fazia um outro serviço. Com um lenço amarrado à cabeça e segurando uma vassoura de piaçava, ele sumia pela chaminé. Nós, as crianças, adorávamos presenciar a sua volta. Fazendo graça, ele parecia nem sei o quê, talvez um saci, cobertinho de fuligem.

 

Passando pela cozinha, eu via a empregada ‘areando’ as panelas com um paninho, tendo ao lado uma pedra de sapólio. Se com essa palhinha de agora não é fácil, imaginem assim. Era preciso ter muque. A roupa branca, depois de esfregada no tanque, era deixada de molho em bacias. Depois ia para o quarador tomar sol. De tempos em tempos alguém a borrifava com água. Só mais tarde é que a estendiam no varal, um longo arame apoiado numa taquara. Tínhamos ferro elétrico. Aquele outro, com brasa dentro, eu via usarem na fazenda. Utilizando um ferro ou outro, antes de passar a roupa, preparava-se a goma: farinha de trigo misturada com um pouco de água, que esfregavam nas roupas a ser engomadas. Todas as outras eram umedecidas pelos dedos da passadeira, que nessa hora mais parecia benzedeira, e ficavam enroladinhas até o momento de ser alisadas.