APENAS UM CONTO
Madrugada, despertou ofegante, como se tivesse acabado de vencer uma maratona. Andava assim fazia algum tempo. Mas ainda não havia se dado conta. Alva acostumara-se a sua vida pacata, de mesmice, de uma rotina tão constante que já era vício, mais ou menos assim: casa, trabalho, trabalho, casa. Nada novo acontecia. Nenhuma atividade anormal, paranormal, extra corporal. Todo dia, tudo igual.
De repente o minúsculo quarto pareceu enorme, e a solidão da noite a invadiu, caminhou cautelosa até porta, seus pensamentos eram confusos, precisava de ar, de respirar, de amar? De sonhar...
Venceu a escuridão atravessou a sala driblando todos os obstáculos, dirigiu-se para a cozinha acendeu a luz, bebeu água, e só então respirou.
Alva foi tomada por uma inebriante sensação, parecia mesmo que a água ingerida lhe fez efeito de álcool. Sorriu, rodopiou como se valsasse com a mais leve criatura, após a música, orquestrada no íntimo de sua alma, reverenciou um amor imaginário, abandonou o copo sobre a pia, apagou a luz e com lentos passos voltou à sala, nesse momento, fez uma retrospectiva da semana. Sua imaginação andava expressiva, com um colorido todo especial, flutuando em 3D. De onde estava, com um movimento, acendeu o abajur, levantou-se e foi ao encontro de seu confessor, ele a libertava de todos os seus medos, suas culpas, lhe afagava o coração, acalentava seus sonhos...
Enquanto os seus dedos deslizavam pelo teclado, a sua frente, a tela registrava suas emoções mais profundas, alguns até afirmam: "Com belíssimas criações poéticas!" O amor, a alegria a paixão, a magia! Por hora, esvaziou sua alma!
Lá fora um barulho lhe chamou atenção, só agora percebeu, a luz que clareava a sala, não era a fraca luz do abajur. Era o sol engolindo a noite, que se foi, para então voltar mais tarde. Quando Alva, já sem a rotina do dia, esquecia-se na noite fria, vazia, de agonia...
Desperta Alva! Sorria. Valsa comigo... e cria.