DDD - Diário de Derrotas [27]

00h20m

Abraçar o desgosto e dormir.

00h50m

Deitar na escuridão e fundir-se a ela fitando o que se pensa ser o teto e desembaralhar um fluxograma de problemas. Falhei aqui. Falhei ali. Falhei aqui. Pura concentração no desconserto do desconforto.

O pessoal daqui comeu alguma porcaria durante o dia e todos estão vomitando. O menor chora escandalosamente a cada guincho de vômito. Não consigo dormir. A segunda-feira me deprimindo sem ter começado.

Sorte natimorta.

07h30m

"@Eddiemasses

Você acorda e tem a nítida impressão que o dia não vai acabar nunca.

Retweeted by you."

Pois é.

Acordei e me olhei no espelho: metade do rosto com barba, metade do rosto sem.

Isso por que deixei o barbeador elétrico na tomada por mais de 24 horas.

Porra.

07h35m

O ruim de feriados assim é que, quando acaba, você, de início, invariavelmente não sabe onde foi parar seu chip pra viver feito o robô que sua necessidade de sobreviver te transforma. Ser ser humano em dia útil é estar perdido.

Isso no Facebook.

08h45m

Estou atrasado, acho. Estou no trem. Tem uma baixinha gostosa do meu lado. Estou com sono. Troco de música e entro na internet.

A pessoa dá "bom dia" pro Facebook todo dia e todo dia curte minhas lamúrias matinais lá. Coerência, cadê?

Há essas duas sentadas no mesmo banco, ambas passando brochas na cara. Passando pincéis nos cílios. Batom nos lábios. Lápis no olho. De novo a brocha com pó.

Devem ser aquele tipo de mulher que não entra no mar.

Não entra na piscina.

Não toma banho junto.

E acorda feia pra caralho, toda borrada, emplastrada, parecendo puta de beira de estrada.

Com toda essa parafernália química escondendo a verdadeira beleza quando, no mínimo, deveria realçá-la.

10h20m

A frase mais irritante do universo é composta por apenas três palavras: "É prazo hoje".

Sem mais.

12h10m

Saio pra almoçar. Bem mais cedo porque não consegui comer nada desde a hora que acordei por causa dos "prazos" dos outros. Vou ao chinês nojento, porque lá é mais rápido e preciso pagar o boleto da faculdade senão perderei o desconto e ficarei sem cinqüenta reais.

12h58m

Ai mano, que vida...

Passei no Santander - que é onde pago o boleto porque tem menos fila do que os demais bancos - e peguei a senha 383; fui ao outro banco sacar e agora que voltei ao Santander está marcando o número 386 no letreiro vermelho.

E a minha nova senha é a 402 e tenho 10 minutos pra voltar pro escritório. Caralho.

16h00m

Estou dentro de um banco. Há uma fila com umas quinze pessoas, e eu sou o último. Entro na internet.

"@pliniodearruda

Alguém pode me explicar por que perdi 4 seguidores de ontem para hoje? Extranho, porque normalmente ganho 4 diariamente."

Esse senhor, se não me engano, já se candidatou a alguma coisa grande em alguma eleição recente. Se preocupando com uma coisa esdrúxula dessas e ainda achando “extranho”.

Digo: caralho, as pessoas poderiam exercer a contenção da babaquice nas redes sociais, já que pelo menos nelas isso é algo opcional.

Digo: e essas emergenciazinhas laborais contraproducentes que realizo e que mais tarde são jogadas na minha cara como desbunde, hein?

Eu estava concentrado nas pendências da quinta-feira e das novas iguais que surgiram hoje quando, faltando dez minutos pras quatro da tarde, hora esta em que todas as agências bancárias fecham as portas, fui incumbido de passar num banco e pegar o documento com um rapaz e correr até o outro banco e pagar, porque ele tava preso lá dentro numa fila interminável.

Digo: Vou aproveitar que me tiraram das planilhas e me jogaram na fila dum banco fazer aquela fezinha na Mega Sena, porque olha...

Lembro: digo: Aliás, 3 horas atrás eu tava arrancando os cabelos porque tinha que pagar a faculdade e o tempo era curto, e agora posso até dormir na fila se me der na telha.

18h00m

Aparentemente, concluí tudo o que tinha pra fazer.

Tento, novamente, estudar.

Hoje tem prova.

E as questões são dissertativas.

E não são nada fáceis.

19h00m

Escrevo um poema que nomeio “Sarjeta com G”. “G” de glamour. Ficou uma merda, mas eu estava só de passagem. Leia e entenda.

19h15m

Como torrada com requeijão, bebendo Ovomaltine de caixinha bem gelado. Entro na internet

"#Partiu banho"

"Vou lavar a loça"

Escrevo: Queridos, peço encarecidamente que, ao postarem anunciando banho ou qualquer coisa particular e relevante do gênero, não se esqueçam de postar um feedback, contando como foi e tal. Nutro muito interesse!!!

19h30m

Na sala de aula, com o professor explicando que a prova terá inicio às 20h. Eu adoro ficar meia hora esperando. Nem tenho uma cama me esperando a 30 quilômetros daqui. Ele diz que é pontual.

20h00m

- Oito em ponto galera! Podem começar.

20h07m

Estou do lado de fora da sala com mais umas dez pessoas; umas já foram embora, enquanto outras, minuto a minuto, saem da sala.

E é através deste que gostaria de parabenizar o professor por ter passado uma prova com conteúdo totalmente destoante da matéria dada e ter causado uma debandada de 70% da sala em menos de dez minutos.

20h45m

Estou sentado no chão do trem, chorando sangue.

Porque eu gosto de fazer questão de sentar no chão.

E entrou essa mulher maravilhosa, estonteante, linda e tesuda, com uma calça suplex enfiada até na alma e está parada bem na minha frente.

Escrevo um poema que nomeio de Nunca Sara.

Porque senão fico louco.

Te juro.

Que eu ainda fico louco.

21h15m

Estou na lotação, com calor, escorado num ferro amarelo, achando que já bem passou da hora de ficar perdendo 3 horas por dia do que chamam de "vida" dentro de transporte público.

23h26m

Não tinha janta, nem pão, nem nada pra comer.

Eu até entrei no mercado, como sempre faço.

Mas achei tudo muito caro e esqueci o que ia comprar.

Como sempre faço.

Uso a técnica de encher a barriga d'água pra esquecer a fome e deito.

09/04/2012

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 09/04/2012
Reeditado em 09/04/2012
Código do texto: T3603772
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.