Sobre a vida e sobre a morte
Ultimamente estou voltando a me dedicar à leitura mais descompromissada, porém, sem deixar de estar atenta às discussões filosóficas que tais leituras me servem. Por acaso, encontrei a venda um livro na biblioteca de Araraquara por dois reais que está sendo muito útil tanto para uma leitura mais aleatória quanto para uma pesquisa. A Negação da Morte é um livro que trata do maior medo da humanidade: a morte, a perda da existência. Somos os únicos seres vivos que passam a maior parte da vida com medo de um dia acabar. Enfrentamos o presente muitas vezes com um aperto no coração porque o dia de amanhã a Deus pertence e a verdadeira certeza é aquela que não existe. Viver o hoje, esquecer o ontem e não pensar no dia seguinte seria possível se não fossemos animais sensíveis e sentimentais, aqueles que criam um significado maior para uma coisa tão banal como é o viver.
Para tentar enfrentar a derradeira hora inventamos milhões de sentidos para justificar a nossa animalesca opção de continuarmos aqui sendo pele, osso e carne e não restos que irão se juntar a terra e enriquecer o pé de uma árvore. Queremos continuar sempre, não importa que motivo criamos para isso: filhos, alguém especial, projetos profissionais, a vontade de mudar o mundo, de fazer uma arte, de plantar uma rosa ou de transformar a vida de outros, pois sempre haverá alguém especial ou uma rosa para ser plantada, o fato é que tentamos com todas as nossas forças adiar para um depois que nunca existe a presença do fim. E como fazer esse adiamento? Como fincar nossa presença na Terra a fim de afastar nosso aniquilamento? Os Deuses são imortais, são eternos, o para sempre. Como sê-los?
Eis a questão suprema da condição humana; como ser um deus – imortal. Não haverá caminho facilitado até o Olimpo, quem nos diz isso é Hércules, o homem mais forte da Terra teve que enfrentar a ira de Hera e seus dozes trabalhos para conquistar a imortalidade. E nós? Reles mortais, fracos humanos o que nos resta para sermos um pouco menos passageiros? Buscaremos a glória, a divinização de nossos atos seja em prol do próximo, sendo em prol de si mesmo ou até contra a humanidade, mas desde que sejamos lembrados pelos nossos netos não importa o tamanho moral de nossos feitos. Assim, temos a superstição vã de que ficaremos marcados na linha histórica humana e que através disto, possamos espantar o fim da existência.
Dor e revolta com a nossa pequenez, com a nossa ignorância, com o nosso menosprezo pelo Universo, porque o que somos diante de bilhões de estrelas cintilantes e de bilhões de corpos cósmicos que perduram por mais infinitos bilhões de anos? Reles animais mortais e sufocantes, parasitas neste outro insignificante planeta de outra insignificante galáxia. Parasitas porque no ciclo evolutivo da vida tiramos tudo desta terra Terra e nada damos em troca, nada mesmo, ao som melodioso e verdadeiro de que se um dia, desaparecermos da face terrestre, ninguém, nem uma mosca, nem uma pedra e nem um vento sentirá falta destes fracos primatas que tiveram que desenvolver a inteligência unicamente para sobreviver. Para o todo que nos cerca, nossa glória é fútil e tola não pertence aos meandros da vida e também não nos faz menos animais mortais como um sapo ou como um boi. Triste ilusão a nossa, querer significar a vida e parar a morte com coisas extremamente criadas por nós como a glória, o poder, o status, a fama ou o dinheiro, quando somos apenas mais um entre tantos e quando a vida significa por si própria.