Alzheimer- Amor e Compreensão
Esta semana fiz algo que há doze anos não fazia: viajei 2000 km para visitar meus familiares, no sertão da Bahia.
Na verdade, o que ocasionou tal viagem com seis dias de duração e de carro foi visitar uma tia em fase terminal. Eu não tinha conhecimento exato sobre seu estado de saúde mas havia ainda a possibilidade de não conseguir encontrá-la com vida.
Nos primeiros contatos, assim que cheguei visitei outro familiar, um tio, portador de Alzheimer. Esta é uma doença degenerativa, a qual destrói lentamente o cérebro do doente, deixando-o debilitado. Atualmente Alzheimer não tem cura, apenas tratamentos que tendem a proporcionar uma melhor qualidade de vida ao doente.
Este tio, em um intervalo de aproximadamente dois anos perdeu quase por completo a fala e os movimentos físicos, ficando completamente dependente do apoio de outras pessoas.
Tal problema de saúde deslocou uma das filhas para sua casa, esta dedica vinte e quatro horas de seu dia nos cuidados do pai, pois sua mãe, também idosa, não consegue fazê-lo sem ajuda.
Mais tarde, ainda no mesmo dia finalmente cumpri o objetivo de visitar minha tia, em fase terminal.
Para minha surpresa, além dos problemas respiratórios, ela também tem Alzheimer, porém em um estágio menos avançado que meu tio, conseguindo falar quase naturalmente, apesar de não se lembrar de fatos recentes.
A lição em ambos os casos foi ter conhecido melhor esta doença, sentindo na pele como é conviver com alguém que se esquece da vida a cada dia que passa.
Mas o mais gratificante foi compreender que tratar a Doença de Alzheimer vai muito além do que usar remédios ou acompanhamento médico: é uma lição de amor. Amor da minha prima que, apesar de não ouvir respostas, ajeita seu pai no sofá, troca suas fraldas e lhe alimenta, como se fosse um bebê de colo.
Ou das minhas outras primas, que tratam minha tia com um carinho incondicional. Vendo-a debilitada, com falar limitado, alimentando-a nas horas certas com amor e dedicação, assim como seu marido, que apesar da idade avançada, ainda lhe remete o sentimento de gratidão, companheirismo, um amor de mais de cinquenta anos, demonstrado num falar suave e paciente.
Não sabemos o dia em que tais movimentos vão cessar. Também até quando o doente irá reconhecer a nossa voz, nosso cheiro, imagem ou nome. Os lapsos de memória são constantes, mas fica evidente que as lembranças mais presentes são as antigas. Minha tia lembrava facilmente de fatos ocorridos há mais de sessenta anos, mas esquecia meu nome em minutos. O importante é que são pessoas que fizeram a nossa história, moram em nossos corações e permanecerão sempre presentes no nosso dia a dia.