RIO DE JANEIRO: UMA VIAGEM AO PASSADO – PARTE FINAL

Finalmente, a noite chegara. E chegara com ela, também, um dos encantos do Rio: o samba. O Comitê Organizador do Evento programou uma excursão aos Arcos da Lapa. Lá, com certeza, a boêmia carioca estaria presente em inúmeros botecos e casas de shows, todos com a fina flor das mulatas que desfilam na Marquês de Sapucaí.

Enquanto me aprontava para ir ao encontro da velha malandragem carioca, o álbum de recordações abriu-se na página da década de oitenta, precisamente em 1981. O Chevette 1977, cor amarela, chegava, vindo de São Cristovão, aos Arcos da Lapa. Eram nove horas da noite de uma sexta-feira. Do seu interior, desceram três jovens impetuosos, dominados pela vontade de se “enturmarem” e, com isso, prolongarem o final de semana. Na casa de samba, onde eles se “encostaram”, uma das mulatas, que dançava enquanto a roda de samba tocava, aproximou-se e, olhando diretamente nos olhos de um deles, disse:

- Meu nome é Glorinha. Estão sozinhos? – perguntou ela.

- Agora, mais não, respondeu o que dirigia o carro, com o sotaque puxado de nordestino.

- Bom, neste caso, depois eu volto, prometeu ela e voltou a dançar.

Um diálogo meio monossilábico, no início, para se transformar, no final da festa, em um dicionário inteiro de perguntas e respostas e, também, de boas surpresas...

Os professores, de última hora, resolveram não ir mais aos Arcos. Preferiram ficar no bairro mesmo. Lá também tinha excelentes casas de samba. Então, para não perder o pique e, com isso, a noite, fechei a página de 1981 e caí no samba!

Os músicos – todos profissionais – tocaram de Pixinguinha a Exalta Samba, passando por Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, além dos sambas tradicionais de Luiz Ayrão, Jorge Aragão, Martinho da Vila, Beth Carvalho e Alcione. Uma noite inesquecível!

No dia seguinte, o compromisso foi assistir, na Casa da Leitura, a um concerto de cordas com professores, todos eles doutores em música medieval. A sonoridade clássica da Idade Média, com suas letras cantadas na língua natal das melodias, foi executada, com maestria, pelo quarteto de pesquisadores.

Logo após, o presidente da Biblioteca Nacional, jornalista e escritor Galeno Amorim, deu as boas-vindas aos professores presentes. Em seguida, um coquetel com direito a varal de poetas, escritores e amigos da literatura. Levei comigo, para deixar o nosso Rio Grande do Norte bem representado, o nosso poeta cordelista maior: Antonio Francisco. Confesso que fiquei impressionado com a popularidade do nosso bardo. Todos os representantes dos Estados presentes queriam saber se é verdade mesmo que ele é simples em suas ações cotidianas, que não falta a nenhum evento para o qual seja convidado, que anda de bicicleta e, principalmente, não gosta de vestir terno em evento oficial. Confirmei tudo. E não menti, tenho absoluta certeza. Apenas troquei a bicicleta pela moto. Até o presidente da Biblioteca Nacional, junto com a sua comitiva, veio me perguntar sobre ele. Na verdade, deu-me orgulho e prazer de falar um pouco sobre esse homem que engrandece e ajuda a propalar o nome da nossa cidade – e do nosso estado, mas me deu mais prazer ainda quando pude dizer que o conheci pessoalmente. Acho que tive, por causa disso, os meus cinco minutos de fama.

A tarde do último dia de estudos foi livre. Resolvi visitar o Pão de Açúcar. Enquanto o bondinho subia a primeira das três paradas, eu contemplei, olhando num raio de 360º, a beleza ímpar do Rio de Janeiro. Se de fato Deus é brasileiro, com certeza, ele é carioca. Não há nada que possa se igualar, em beleza natural, ao espetáculo que a pedra do Pão de Açúcar proporciona aos visitantes. Para poetas e leigos da arte de versejar, o cenário inspira da mesma forma, causando, aos que a visitam, momentos de, no mínimo, uma frase poética.

Enquanto turistas do mundo inteiro contemplavam a beleza, falando em suas línguas, como se ali fosse uma Babel, eu refleti sobre a natureza tão generosa e os cuidados que devemos ter para com ela. A Baía de Guanabara, lá embaixo, abraçada pelo Cristo Redentor, protege a todos que chegam por ela.

Voltei-me para a minha profissão primeira: a de educador. Nela, olhando para o horizonte sem fim do Atlântico, dei-me conta da importância que é repassar e mediar o conhecimento para as futuras gerações. A beleza, embora perfeita, é frágil. O homem, que costuma pôr a mão na natureza e modificá-la, precisa ter consciência de sua autoridade como preservador desse meio ambiente e, com isso, deixá-la incólume ao tempo dele.

Quando voltei do passeio, estava convencido de que acabara de presenciar uma das maravilhas da natureza, quase intacta, embora esteja sendo explorada comercialmente.

À noite, a volta ao meu estado. Enquanto o avião fazia a curva, em subida, para desviar do Pão de Açúcar, eu passei as costas das mãos pelos olhos. Fora um "cisco" que caíra, naquele exato momento, em cada um deles...


Foto: Jornalista e escritor Galeno amorim, presidente da Biblioteca Nacional


 

Grupo III Nordeste quando da sua explanação 




Professoras Erileide e Jucilândia...



... ao lado do cordel de Antonio Francisco (aqui, ao lado da profª Salizete).


Quarteto de professores pesquisadores de músicas medievais


Pão de Açúcar.


O Rio está mais perto do céu...

 
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 08/04/2012
Reeditado em 19/04/2019
Código do texto: T3600745
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