Sino infernal aos domingos
Todos estão de acordo quanto ao emprego do bom senso para vivermos bem a vida. Ninguém pode esperar que algum culto religioso desminta isso, embora só a história confesse a verdade. Todos estão de acordo que um belo sino bem tocado é bonito em torno de cinco minutos. Meia hora de sino, todavia é inaturável. Tem ocorrido aos domingos às nove e meia. Você leitor, lembrará deste humilde cronista sempre aos domingos, nesse horário, tentando desesperadamente dormir ao som de trinta minutos de sino mal tocado.
O sino badala incansavelmente como só deveria badalar em caso de invasão territorial pelo inimigo ou tragédia consumada. Imaginem se todas as religiões e credos resolvessem utilizar a falta de arbítrio nesse sentido para badalarem seus sinos religiosamente. Seria um inferno.
Tem sido um inferno suportar os sinos no domingo. Verdadeira falta de educação invadiu o templo tomando conta da criatura zureta que toca esses instrumentos de bronze.
Houve um tempo em que desapareceu um sino e durante alguns anos ninguém deu por falta, exceto tonto cronista. Estou arrependido do alarde que fiz sobre a ausência desse sino. Tonto antes que tolo porque antes era melhor. Hoje esses incautos tocam sino sem a menor consideração com o sono domingueiro. É um espetáculo tremendo que não cessa e atordoa internacionalmente porque vivemos na fronteira.
Quando era criança ter religião caía bem e cheguei a ser coroinha. Lembro-me de ter badalado esses enormes gongos algumas vezes e o padre da época era homem discreto, poeta, a quem até hoje tenho grande admiração e estima. Hoje muito doente deixa grande lacuna. Nesse tempo feliz o sino era badalado com musicalidade, jamais com esse frenesi quase histérico do momento. Os tempos mudaram.
Jesus devia ter dito aos que se apossaram de seu discurso: faz do teu coração o próprio templo. Assim tudo seria tudo bem melhor no mundo. Todos haveriam de ter em si mesmos a própria consciência religiosa, não necessitariam se reunir para dar uns aos outros a prova dos nove da sua confissão. Haveria humildade nisso e jamais nenhum tipo de exploração financeira. Mas isso é outro departamento. Neste domingo além da missa temos o exagero dos sinos e minha enxaqueca que não cessa.
Jesus Cristo nunca teve necessidade de badalação oriunda certamente de algum noviço coroinha fanático e alucinado. Os sinos servem com seu badalo desesperado para alertar o mundo das suas contradições, além da enorme utilidade de uma educação livre, discreta e laica. Algum padre doce que diga ao instrumentista que sino é na verdade instrumento musical, portanto a lei do sino deveria constar de único item: toque suave, suave sem estupidez repetitiva.
Santa Vitória do Palmar
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Há outra praga sonora que não respeita ninguém: bicicletas sonoras. Quase sempre patrocinadas por religiões do poder de Deus;pobre Deus que mal sabem, já foi Zeus...
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Vivemos o tempo conhecido como a época do sino histérico.