PRIMEIROS CAMINHOS

Para Meu Mano Joel  No Seu Aniversário - 02/02

Recorda-se de pequenos trechos daqueles caminhos. Da chegada da casa do Eclipse, de quando pegaram a carona do Fazendeiro no seu automóvel modelo anos 30 ou 40, vindo da cidade. Ao descer ficou por ali mesmo no terreiro, a manobrar o seu carrinho de latas de soda cáustica que sua mãe lhe fizera, num pequeno trecho de estrada, imitando o "chaufer" que os havia trazido.

Também da outra fazenda onde moraram vê, ainda, a estrada que passava próximo do seu rancho de palha dentro da mata, demandando a sede da fazenda. Destas pálidas lembranças brotam as imagens de umas cercas de arame farpado, paralelas à margem da via por onde trafegava carros-de-bois, o gado, pessoas montadas ou a pé. Um corredor entre as seções da pastagem.

Na mudança para outra região, ficaram, as crianças, na casa dos avós, até que a arrumação dos pertences da casa fosse processada na nova residência. Disseram-lhes à noite, que no dia seguinte deveriam seguir a pé pela estrada da serra, passando por umas elevações de terreno, acidentes geográficos, pelo meio do caminho. Foi uma eterna noite agonia, até que no dia seguinte descobriu-se de que não se tratava de caminhada por cima de dentes amolados e pontiagudos de uma serra, igualzinha aquela da serraria do seu avô. Quanta preocupação e dor desnecessárias!

A Mata do Coelhinho era uma reserva florestal considerável. Não visava, talvez a proteção de nascentes, dos animais silvestres, da biodiversidade, mas sobretudo da preservação de uma fonte de madeiras de lei. Bálsamos, perobas, aroeiras, jatobás, para as necessidades das fazendas. Pelo meio desta floresta passava a estrada para a cidade e lugares adjacentes. Até hoje sente o frescor daquele caminho, indo à garupa do cavalão meio xucro, correndo o risco dessa montaria refugar ao barulho de algum lagarto que pudesse, velozmente, cruzar à frente, na sombria passagem. Espaçosa era aquela garupa, mais espaçoso, o chão em que a gravidade de lá o convidava a descer do modo que viesse!

Em qualquer caminho sombreado, por onde passar, será remetido a sessenta anos atrás, com certo temor, indo passear a cavalo com os pais, à casa dos avós.

Saudades destes caminhos, para não dizer, de outras trilhas que ficaram perdidas no tempo e na memória!


Brasília, 2007