LUTHIER

E quando soube que a profissão que papai exerceu durante toda a vida era Luthier, não me contive e decidi escrever um pouco sobre a nobre profissão de papai.

Quando eu era apenas um garoto tive o prazer de trabalhar durante uma semana numa oficina de instrumentos musicais, na verdade não era bem “trabalhar” e sim um breve castigo para poder valorizar um pouco o dinheiro gasto em um curso de Admissão que andava cabulando para ir nadar numa lagoa chamada Cisper.

O trajeto até chegarmos à oficina era de trem e levávamos marmitas e assim que chagávamos na oficina tudo se transformava.

Como era bonita a loja, com todos os instrumentos dispostos em maravilhosas vitrines, alguns raios de sol que penetravam na loja davam mais encanto aos lindos sax, trombones, pistões, bombardines e outros instrumentos.

Mas toda a beleza ficava na loja, pois assim que entrávamos na oficina tudo ficava cinzento, pedacinhos de metais esparramados pelo chão, paredes rotas e um cheiro horrível de fumaça.

Os operários cumprimentavam-se, trocavam de roupas e dirigiam-se para suas bancadas feitas com madeiras e onde se podia ver que todas tinham um torno, um maçarico, uma enorme gaveta com vários tipos de ferramentas e um banquinho.

Papai levou-me até o meu local de trabalho que ficava no fundo da oficina, deu-me alguns pedaços de flanelas e apresentou-me um lindo sax que estava pendurado num cavalete e disse que poderia começar a trabalhar, pois eu seria o mais novo lustrador de instrumentos de sopro da oficina. Lembro-me que era necessário colocar uma determinada pasta para que o brilho tornasse mais intenso e lá fui eu dando as primeiras “flaneladas” no instrumento que parecia que estava sorrindo da minha cara.

Era assustador quando todos os maçaricos estavam funcionando simultaneamente, pois parecia que estávamos no inferno, era fogo pra tudo quanto era lado e eu ali, com um olho no instrumento e outro nos maçaricos e ficava pensando: Acho que esta oficina vai explodir a qualquer momento!

Chegou a hora de almoçar e meu pai colocou nossas marmitas para esquentar em banho-maria e todos comeram maravilhosamente bem, menos eu que estava com o estômago embrulhado, virado e com muito enjoo.

Era maravilhoso ver a habilidade de papai que com alguns martelinhos ia desamassando parte por parte dos instrumentos e em seguida ligava o maçarico e aplicava no instrumento e martelava novamente eu ficava imaginando que em breve aquele instrumento poderia estar integrando alguma orquestra do nosso país e embalando sonhos de pessoas ávidas de apenas alguns momentos de felicidade.

Após um longo e estafante dia de trabalho, retornávamos para casa com a mão doendo de tanto lustrar os instrumentos, mas feliz, muito feliz em ter ficado ao lado de papai durante todo o dia.

Foi apenas uma semana de trabalho ao lado do meu querido papai, pois consegui contrair uma terrível diarreia e fiquei em casa e aprendi a valorizar muito a nobre profissão do meu pai José da Silva, O Luthier.

LUCASI
Enviado por LUCASI em 08/04/2012
Código do texto: T3600408