TROPEÇOS

Por que será que tropeçamos tanto? Quando criança e ainda pior na adolescência, não conseguia dar dez passos sem dar um trupicão. Na época minha mãe ralhava comigo dizendo que não havia no mundo chinelos que desse conta, porque toda vez estourava a correia do calçado.

Ela brigava alegando que eu era muito mole, não levanta os pés para andar, que era muito preguiçoso, ou vivia sempre fraco porque não comia direito "- Não como feijão, olha o que dá! Quero ver quando estiver no exército. Como é que vai ser?"

As vezes acontecia o contrário da música "nóis trupica mais num cai" e lá ia eu pro chão. Ficava todo ralado. Quando chorava, nas quedas mais graves, a explicação que davam era que tropeçava muito por não ser batizado ainda. Destituido de razão, acreditava e seguia tropeçando conduzido pelo cerimonialista da vida que trouxe-me até aqui beirando aos trinta.

Agora, os tropeços são maiores. Não mais arrebento correias de chinelos, arrebento correias no coração, por vezes na alma. Nesta não há remendos com pedaços de grampo, ou clips que dê jeito. Uma vez quebrado seguimos arrebentados achando que a vida é um grande chão, onde nos encontramos de cara com ele sem direito a por a mão na frente para nos proteger. Os que nos olham, cremos que estão a rir de nós.

Nos azedamos por dentro como fruta num estágio anterior ao apodrecimento, valendo a máxima que diz "que uma fruta podre no cesto, apodrece as demais". Sim, é desse jeito: uma pessoa infeliz por dentro é um mundo de tristeza e não dúvido nada que o entristecimento não reverbere em outros, já que estamos todos ligados uns aos outros, corpos celestes no cosmos formando um sistema complexo e coeso, sendo um causa ou consequência do outro.

Ai não nos resta mais nada a não ser por-mo-nos de pé e reverberar esta ação, tal qual o efeito de uma super nova que viaja no infinito e constante anunciando-se.

Wérlen M. dos Santos

29 de fevereiro de 2012.

Wérlen M dos Santos
Enviado por Wérlen M dos Santos em 07/04/2012
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