É tão bom matraquear!

 

Quando eu era pequena, diziam que eu não parava de falar, parecia uma matraca. Eu nem ligava, não sabia o que era. Um dia me mostraram, quando passava a procissão. Um homem ia andando sacudindo um instrumento que fazia crec, crec, crec, um forte barulho metálico. Fiquei impressionada, mas acho que nem por isso deixei de falar. Só mais tarde, em companhia de pessoas muito falantes, percebi os efeitos da matraquice. A enxurrada de palavras é tão grande, a pessoa fala tanto que até deixa os outros tontos e finalmente ninguém presta mais atenção. Não sei se era o meu caso. Talvez eu andasse atrás de mamãe contando tudo que me passava pela cabeça e a coitada, ocupada com mil tarefas, inclusive outras crianças, ficava atordoada...

 

Minha filha, atualmente boa falante, quando pequena era até caladinha, ficava bastante tempo concentrada com seus brinquedos. Mas não podia me ver ao telefone. Largava tudo e vinha correndo contar alguma coisa me puxando pelo braço, puxava minha roupa. A todo instante eu tinha que interromper a conversa e pedir que esperasse. Agora achamos engraçado e rimos ao nos lembrar.

 

Hoje eu quis ligar para ela, mas não pude. Amanheci sem voz. Abro a boca e os barulhos que saem lá de dentro são esquisitíssimos. Quem sabe amanhã voltarei a ser matraca novamente. Tomara!