A arma, a flor e o sangue
À Dilma
A ciência poderia se quisesse criar uma arma em que ela só disparasse transmitindo via satélite o registro das digitais do atirador, além da sua posição geográfica na hora do tiro. A ciência poderia interferir no sistema financeiro impedindo que as pessoas fossem destruídas pela ganância do lucro. A ciência poderia aliviar o sofrimento das pessoas que sofrem, eliminando a dor. A ciência podia alimentar o mundo da sua fome indescritível de vida pacífica e boa. Poderia se a esperança fosse depositada na responsabilidade dos homens e não na insânia ilusória das representações desesperadas.
No entanto a ciência só atua de acordo com os ventos tóxicos do lucro. Converteu-se ao capitalismo destruindo a democracia e nutrindo-se do equívoco em nome da liberdade. A ciência poderia ter hospitais inteligentes com atendimento especializado em deter a dor. Tudo poderia ter solução que não inquietasse a alma boa e livre. Para que o sistema convertesse o dia em sonhos justos.
Ocorre que temos o dinheiro como meta essencial de todas as ações. A troca da alma por dinheiro a qualquer custo. O poder através do lucro em todas as ações. Sem isso resta a desimportância, a humilhação absoluta. A fonte de especulação da miséria, a alta rentabilidade sobre a desgraça inacreditável dos falidos. Os despejos, a falta de tudo até o dia horrendo em que ninguém está do nosso lado e tudo parece brilhar num inferno de ofertas.
As religiões ocultam a ciência em nome da fé cega. Alimentam os pobres de fé empedernida. Vontade irrestrita de que a magia seja real. Funciona melhor assim a máquina de criar desfavorecidos com ilusões mágicas embutidas no passado remoto como método de esquecimento das coisas como elas são. Haverão de receber a justiça que só terá no morto o lamento, sem saber que a própria morte, provocou lucros exorbitantes aos abutres do sucesso. Sangue doado para venda na caridade cínica produtiva.
Que mundo impiedoso fomenta a riqueza como poder! Que espelho poderoso da inveja mantém todos hipnotizados pelo bel-prazer de alcançar à mesma altura! O mesmo lugar vazio da alma impiedosamente serena. Os juros de sangue no banco das almas. Purgando a mora incrível nos tribunais horrendos que condenam os já condenados sem indagação: que chances tiveram? Crucificando ao absurdo os já desolados. Ai que angústia profunda vem dessa riqueza adquirida pelo fracasso alheio! Pela morte alheia e longe de ser detida pela ciência financeira sofisticada e cúmplice.
Importa manter o drama real da impiedade monetária no campo do anonimato para que sempre exista o desejo do enriquecimento sobre as migalhas da alma. As demissões, os contratos sujos, a falência inconcebível diante da ausência de oportunidade. São detalhes do destino maquiado com jovialidade plástica e sedução de princípios. É de juventude eterna que nos iludimos e não a maturidade dos derrotados. É preciso consumir a juventude para nutrir de ambição o reino do consumo.
O estado juvenil é estampa que oculta dissabores até da infância frágil, miserável nas ruas exploradas. O jovem é a comunicação. O subterfúgio da didática em todos os seus destinos práticos. Porque abastece com imagens bonitas a decadência da mão de obra vital e mal vivida. Esconde, cala, encobre o quanto trocam saúde por dinheiro. Em nome de quem se beneficia com este mero detalhe comunal.
A ciência transformou a economia em roubo lícito contratual dividindo os homens em ricos e pobres. O mais canalha faz às vezes de mais forte na escala de valores da admiração vazia. Como se fosse o princípio natural do reino animal transportado aos desígnios divinos financeiros numa casa financial. Espécie de Deus canalha que avilta o mundo rindo do modo como se destrói a própria criação. Um Deus sem alma rezando em público sobre a sua montanha de moedas recolhidas do sangue em flor.
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