Mistérios de Goiás
 

Mistério 1: Sumiço da Revista Carta Capital das bancas de Goiânia.
 
            Diz, uma das versões barrocas, que a peça revista de caráter difamatório contra os princípios espúrios de uma casta política dominante, que o inferno há de tragar, desapareceu na calada da noite (e cada terra tem as noites que merece) sem que se soubesse quem nem onde. Haveria sido ¨abduzida¨ por homens trajando negro, sob o alto de botas sujas de barro. Quem viu, tem medo. Quem participou, nega. Sabe-se apenas que onde falta acesso à informação e liberdade de expressão, não se tem democracia. A província resiste.
            Falaram até que a dita cuja nem chegou, pois foi maldita por Deus tendo sido os veículos que a transportavam ardilosamente tragados por chamas lançadas do alto pelo poder divino, não querendo que a democracia ali abençoada fosse fustigada por mal querenças destiladas sobre o papel.
            O povo tem suas crenças que podem ser alçadas por anzóis que brotam de nossos rios lacrimejantes às nuvens que nos vigiam através dos seus mil olhos e duas mil bocas famintas. O apocalipse é aqui e São João se admiraria da perfeição dos fatos devoradores dos anjos malditos tragados em boatos.
            No entanto, o veículo hoje é outro e o que se queria ocultar veio à tona pelas vias das redes sociais que não se cansam de pavimentar um caminho que não se pode, ainda, controlar nem que chovam cachoeiras.
            A revista sumiu, fato. Quem o fez, boato. O que dizia, todos o sabem, mesmo quem finge não querer saber.
 
Mistério 2: O Governador não sabia.
 
            A maldição reinante na pátria Brazil (com Z, pois o mundo assim o sabe) determina que o principal líder nunca deva ter acesso a informações que sejam desmoralizantes ou façam eclodir a corrupção sob os seus domínios. Ficam os líderes cegos, surdos e mudos para as coisas do mal, o que seria uma virtude oriental, torna-se um estigma nacional.
           Houve um presidente, recente, antes da era Dilma, que de nada nunca sabia. E isso foi inédito na história desse país. De igual sorte, um desafeto seu nas paragens centrais das terras tupiniquins, cortada em azar pelo paralelo 13, também não devia saber das manchas que sujavam suas barbas deitadas em molho nas empadas de Pirenópolis.
            Uma terrível medusa transforma os olhos dos governantes dessa nação em pupilas de pedra para os casos de furto cometido pelos seus indicados, nomeados, ou colaboradores ao bolso alheio. A terrível maldição, segundo se conta nos templos da esperança e da boa vontade, hoje existentes apenas na teoria, somente terá queda quando homens de verdadeira fé democrática subirem ao topo das urnas. O que não se dará, pois tais homens se encontram tão ocupados em ganhar a vida honestamente, através do trabalho e dos cuidados com suas famílias, que não se prestam a notar o caminho das desventuras políticas que é tomado de assalto pelos lobos enquanto dormem os cordeiros.
 
Mistério 3: A Capital das obras incríveis.
 
            Uma terra tão abençoada por fatos míticos, não poderia ter uma capital que fizesse por menos. Temos nela um misterioso zoológico em que os animais morrem de causas nunca elucidadas onde o povo somente se pergunta: que lazer é esse?
            Em nome do lazer, viu surgir um dos mais caros parques ao sul do Equador, o Mutigrana, onde montanha russa usada sai por preço três vezes superior ao de uma nova e tudo é normal aos olhos do Paço Municipal.
            Vê-se nessas ruas caminhões com braços mecânicos tapando buracos substituindo o trabalho braçal de 20 homens cada, e pensamos que viramos um Japão. A população viu maravilhada os buracos sendo cobertos por camadas e camadas de ouro, visto o custo das máquinas, alugadas via dispensáveis licitações, ter-lhe custado mais do que se poderia pagar, mesmo que se perdesse completamente o juízo.
            Não bastando, ao piscar dos olhos de um dia, a cidade se viu invadida por vaquinhas multicoloridas. A Hora dos Ruminantes chegou, que nos perdoe J.J Veiga, pela referência imerecida, mas a mordida foi apenas nos bolsos do povo que não se cansa de alimentar a horda de zumbis que povoam a nossa política famigerada. Se pelo menos as vacas fossem belas, se pelos menos dessem leite, para que o povo pelo menos uma vez mamasse, mas a única coisa que encantaram foram as contas bancárias dos patrocinadores e patrocinados. Nossos artistas nunca mereceram tanto e padecem no paraíso.
 
            Conclua-se, então, que um turista desavisado, ao aportar por aqui, venha a declarar:
  • My God, Disney World is here!
 
Talvez não seja, mas temos elementos que nem mesmo a própria Ilha da Fantasia poderia abrigar. Certamente, os deuses devem estar loucos...